O que não pode, o que não presta, o que me prende. É só eu não poder dizer lá em casa, que pronto, to ferrada. É só ser o completo oposto do que papai queria, do que mamãe sonhava, que pronto.. É só ele fazer tudo errado, é só ele não ser romântico, não mandar flores, não dizer eu te amo, que aí eu to perdida. Deixa claro que não é de ninguém? Lá vou eu querer me candidatar a única. Tem fama de que come todas? Lá vou eu ficar do lado dele, e querer que ele pegue na minha mão e não na minha bunda. Não acho certo, sei que não acho certo, mas sempre amei o errado. Até porque o errado sempre me deixa com cara de que pode mais, de quem pode tudo, de quem é dona de si, de quem é dona das próprias escolhas. Só não me explicaram que posso ser dona de mim, mas nunca dona dele. Ele não tem dona, não tem cabresto, não tem parada, não tem morada. E lá vai ele, com seus mil defeitos, mil problemas, mil porres, mil tatuagens, mil histórias politicamente incorretas, mil mulheres. E eu aqui, com a maior cara lavada querendo fazer o papel de rainha do gueto, do morro, da favela, como se eu tivesse alguma coisa a ver com esse mundo ruim. Qualidades? zero. Sorrisos sinceros? zero. Não tem problema. Ele me olha como se quisesse mandar, e manda. E fala como se fosse meu dono, e é. E me segura como se tivesse raiva de mim, da minha vida de princesa, da minha doçura, do amor que ele não sente, e eu sinto por nós dois. Um ordinário, desgraçado, bandido, otário, que me prende, não me deixa ir, não me deixa ficar, não me deixa querer. Quieta, muda, calada. Só o que posso fazer é admirar meu mau caminho, fazendo papel de chapéuzinho, enquanto ele me olha como lobo mau.
("Idéias passam, idéias mudam, idéias ficam!")