sábado, 24 de dezembro de 2011

Amizade que não atrasa


Tô saindo porque hoje vamos reunir as meninas. Isso é um perigo, e uma raridade. Vai ter amigo secreto pra comemorar nossa amizade, o natal, e mais um ano juntas. Vai ter risadas, patadas em uma, farpas em outra, vai ter abraços, e se eu bem conheço, vai ter uma bela briga. Resolvi pensar num texto pra elas. Tô atrasada. Acho que não vai dar tempo. Mas o texto veio pronto, agora. Fazer o que? Agora vai. Minhas amigas sempre reclamam que não faço textos pra elas. Poderia fazer, afinal são tantos anos, e tantas falhas, e tantas histórias que dariam vários textos, que daria um bom livro. Mas eu sempre escrevi pelas minhas aflições, e pelas coisas que eu queria ter e não tinha, e pelos erros que a vida me trazia. Mas minhas amigas sempre foram meu maior acerto. E nem sempre as pessoas tem amigas. Tem gente que passa uma vida inteira chorando sozinha porque perdeu o namorado, rindo sozinhas das próprias piadas, contando pro travesseiro os segredos mais horríveis. Mas eu tenho amigas. Por mais que as vezes eu desejasse ter um tipo ideal de amigas e mandar todas elas sumirem. Elas são o meu tipo, e me caem muito bem. A pessoa que eu tirei de amigo secreto é mulher, forte, guerreira, tem algumas cicatrizes no coração, tem um sorriso de rainha, um abraço do tamanho do mundo, tem problemas de família, se olha no espelho e não se acha muito bonita, em outros dias ela se acha incrível. Tem dias que ela chora, tem dias que ela morre de ri, tem dias que não suporto olhar na cara dela, em outros não desgrudo do seu colo, e sempre, sempre ela vai estar presente na minha vida. A pessoa que eu tirei no amigo secreto foi quem eu escolhi pra ser minha irmã mais velha, quem me conhece desde pequena, quem se tornou minha parceira, quem é quase minha vizinha, quem compartilha o meu nome, quem tem a melanina que eu tanto amo. E não importa quem eu tenha tirado. O importante mesmo foi a vida ter colocado uma por uma no meu caminho. Dizem por aí que quem escreve é quem não tem nada pra fazer. Eu escrevo. Tenho que fazer mil coisas antes das sete, e são vinte pras sete. Mas elas vão entender o meu atraso. O atraso da hora, o atraso do texto. Porque como dizem por aí, você só ama uma pessoa se consegue amar os defeitos que ela tem. E eu amo o defeito de todas essas pequenas mulheres cheias de erros, mas que acertam um único ponto: na nossa amizade. E não importa que uma é grossa, a outra some, a outra se irrita fácil, a outra irrita os outros, a outra é manhenta demais, mimada demais, esquisita demais. Não importa. Porque isso é gostar: não suportar de toda forma um gesto, uma palavra, uma mania, alguma coisa em alguém, mas não imaginar de forma alguma sua vida sem isso. Sei que o tempo vai passar, e que agora isso tudo parece melação de quem não tem nada pra fazer e sabe usar uma palavra bonita aqui ou ali, mas daqui 20 ou 30 anos só vão sobrar saudades, então, de vez em quando é bom dizer que sem elas eu não conseguiria continuar. É bom dizer que eu não as escolhi, mas eu agradeço muito pela vida ter escolhido. Realmente, ela sempre sabe o que fazer. Espero que ela nos faça mudar, crescer, continuar, mas sempre, lado a lado. E antes que eu seja apedrejada, pára de buzinar, já tô quase pronta, só mais 5 minutinhos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Silêncio

E pode até ser que seja tarde, mas não só aprendi a dizer menos, como aprendi a sentir mais, bem mais, mas continuar com a mesma cara de incompetência. Tão muda que ninguém percebe o que de fato se passa, tão a todo vapor, que não paro de trabalhar um só minuto, e não paro de pensar um só minuto, mas tudo que concluo, é que simplesmente prefiro não dizer nada. Silêncio, por favor. Silêncio, porque o não é difícil e o sim não é permitido. Silêncio, porque é a melhor forma de dizer não. Silêncio. Distância. Ausência. Era tudo o que me restava. E comecei a me acostumar com certas negações da vida: foi embora, nunca mais, acabou, não era amor, engano seu, procure outro. Era o que eu pensava toda vez que via num canto perdido do quarto uma foto sua. Ou quando via seu nome em algum bilhete velho. Ou quando encontrava com algum dos seus amigos. Ou quando sua família insistia em me procurar. Era tudo o que restava. E seja lá qual for o vestígio que me ronde: o beijo, as vozes, o cheiro, tudo, tudo que chega eu invado com o meu pessimismo realista. Não vai mais acontecer. Acostume-se. Acostume-se a sentir para dentro, chorar por dentro, morrer sozinha, viver cheia de vida sem que ninguém saiba o que se passa. Não deixar transparecer. Colocar o orgulho acima do amor. O amor-próprio acima da paixão. O não acima do sim. Eu longe de você. Era assim a partir de agora, e seria assim por longos anos, seria assim daqui para frente. Sempre assim: tão vivo dentro de mim que quase impedia o novo de acontecer, tão morto que não reacendia mais nada, tão intacto que ninguém conseguia modificar, substituir, mudar. Seguia assim: com a certeza de que nunca encontraria uma pessoa como você, nunca mais amaria igual, tão forte, tão irreal. E mesmo sentindo todo esse desperdício de sentimento, sentia ainda mais, que por mais que vivesse na sombra por algum tempo, não deixaria que mais ninguém visse meu cinza. Eu seria luz, sol, vida. Por mais que minha garganta entalasse o berro para sempre. Por mais que meu travesseiro ficasse entanguido todos os dias. Por mais que o peito apertasse. Não ia, nunca mais ia ser triste. Pelo menos para o mundo. Pelo menos pra você. Pelo menos pra quem me enxerga de fora e não vê quem eu sou, eu ia ser tão feliz que vez ou outra eu iria acreditar nessa felicidade. E dia ou outro, de tanto fingir ser feliz, eu ia me ver, enfim, novamente feliz. E de tanto silenciar essa dor, um dia, ela se silenciará, e eu nem vou lembrar que um dia doeu tanto, tanto, tanto assim. Como agora. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O homem da menina


Não era menino, não. Tô cansada desses meninos que não sabem compor nem uma oração subordinada mas nos subordinam às canalhices que eles espalham por aí. Moleques, que ainda precisam da mãe pra apontar o caminho, mas se acham no direito de querer pontuar nossa vida. É preciso saber ser homem sem querer ser. Ser porque se é, porque já se tornou e não porque está descobrindo o seu vigor másculo, e o que fazer com ele, e o que fazer com nós. Homem, daqueles que não te chamam de oi gata, mas você se sente a felina mais poderosa que existe. Homem, daquele que sabe usar as palavras e não se esconde atrás do silêncio, ou até mesmo, da ignorância. Homem, com cheiro de homem, cara de homem, jeito de homem. Olhos, daqueles que escondem mistérios, mas, descaradamente te mostram vontades. Olhos que te despem do juízo, desses que te fazem roxa só de tentar imaginar os pensamentos que existem por trás desse olhar. Mãos, que sabem aonde vão. E sabem parar quando chega o limite, e sabem continuar quando eu digo que pare, mas penso que continue. Versos: soltos, tranqüilos, sem ensaio, sem a intenção de meias verdades nem inteiras mentiras. Versos que encantam por encantar, não por iludir. Chega a causar medo, a achar tudo aquilo um perigo. E por qual motivo não fugir desse alerta vermelho? Hipnose, feitiço, sensação boa de adrenalina, de proibição? Pode ser. Talvez saber que pode até ser perigoso, mas o desejo aqui fala, berra, grita mais alto. O desejo de querer ficar, querer tentar, querer se jogar. Do penhasco, nos seus braços, sem os traços da pureza, sem a demora do amor. Simples porque querer é simples, e posso te querer sem querer saber da sua vida, sem querer seguir seus passos, sem querer pra casar. Sem querer pra ligar no meio da noite pra escutar a voz, mas ligar no meio do dia pra se aventurar. Aventurar no desejo, no beijo, no eixo que se encaixa como quem já se conhecia. Deixar. Deixar a mão que vá, ou que venha. Se deixar sentir, porque tudo será válido. Mas que não sinta amor, pra não ficar do jeito chato que sempre é. Gostava mesmo é da persuasão, do doce controle de querer se entregar, mas não ir, não agora, não ainda. Da certeza que acontecerá. E acontecerá sem joguinhos, sem se precisar dizer “deixa eu passar a noite com você porque te quero pra sempre”, porque eu sei que ele me quer, e eu o quero pelo querer, não pelo sempre. E não há falsas ilusões. Eu quero porque ele sabe ser homem. E ele me quer pra me tornar mulher. Pra deixar com que essa inocência de continuar menina desapareça. Pra me fazer entender que certas pessoas se unem por desejo, e não pelo sonho de serem felizes juntas. O junto é agora. Amanhã talvez, sem promessas, sem culpas, sem mágoas. Sei que é assim porque homens são assim. E quando se conhece um homem, nunca mais se contenta com qualquer menino. E o desejo é sempre mais, é sempre ainda, é sempre quem sabe, é sempre quando der, é sempre não vejo a hora. Não vejo a hora de ser conscientemente coagida em qualquer hora do dia. Não vejo a hora de ser obrigada a não dizer não. Não vejo a hora de valer. Valer a pena e o que mais tiver que valer e acontecer. E que faça valer, pra eu poder ter orgulho da loucura que é o desejo.

sábado, 19 de novembro de 2011

Se o amor existe, se esconde

Percebi hoje que aconteceu de novo. Tô começando achar que tá virando mania sair pela rua olhando pra todos os lados, pensando, analisando, me perguntando "será que é você? será que vai ser você meu novo amor?". Olhei pra um desconhecido hoje, pensei que dessa vez podia ser. Não foi. Mas podia ser ele, não podia? Ou o que estava na sala de espera do dentista comigo, o que me atendeu no telefone quando eu liguei na gráfica, o que tá no terceiro ano da faculdade, aquele que eu encontro no corredor, o que subiu comigo no elevador, o amigo do meu irmão, o amigo do amigo daquele amigo, o padeiro, o pedreiro, quem será? Quem é que vai entrar por aquela porta e alegrar tudo de novo? Eu achava que não gostava do gostar. Gostar faz sofrer, gostar faz ter medo, gostar faz pedir pra ficar, faz ver ir embora, faz querer morrer. Mas gostar é viver. E não gostar, não gostar é o celular não tocar, é o coração não sair pela boca, não ter pra quem ligar no fim do dia pra perguntar se tá tudo bem, o que fez hoje, se tá cansado. Não gostar é não ter de quem ter ciúmes, não ter um abraço quente, uma cama quente, um sorriso quente, uma briga fria. Não gostar é não ter ninguém. Ninguém pra pedir desculpa, ninguém pra bater o pé e dizer que tá certa, ninguém pra chamar de seu, ninguém pra mostrar pro mundo, ninguém pra ser seu mundo. Não gostar é ficar com o vazio, com o nulo, com o nada. Não gostar acaba nessa mania estranha de querer preencher o tempo todo um espaço que doía, mas fazia viver. Eu achava que não gostava do gostar. Mas prefiro gostar, prefiro ver o ciclo de chegar, fazer feliz, ir embora, fazer triste, do que esse espaço que descobri que só se preenche com a presença da ausência, com o grito do silêncio, com o sofrimento de não sofrer, por nada, nem ninguém. Quis tanto não amar, quis tanto ser mulher-independente-segura-de-si-antes-só-do-que-mau-acompanhada e acabei nessa menina romântica com o jeito bobo de achar que vai virar a esquina e de novo encontrar um amor. Paguei a língua. Apaguei os erros. Penei pra esquecer. Me fiz vazia. E agora quero tudo de volta. Mas aonde ele se esconde?  O que ele faz da vida? Como ele é? Vou precisar ser fingida e aparentar não estar procurando nada pra ele aparecer? Ou ele quer mesmo que eu o cace? Amor, cupido, deuses, anjos, pai-de-santo, farmacêutico, terapeuta, seja lá você quem for, me dá uma dica, uma pista, uma chance. Eu quero encontrar, não tá vendo? Eu tô aqui, aberta, inteira, reconstruída. E nada. Agora que acho que consigo amar direito, agora que espero me livrar desses filmes de terror que não dão espaço pra comédias românticas, e dessas dúvidas que não dão espaço pra certezas, e dessa montanha-russa que não me deixar viver a calma da roda-gigante. Agora que tô pronta, cadê essa porra de amor? Que não vem, que não me acha, que não quer sequestrar a minha vida quando eu tô pagando pra entrar no cativeiro. Sei que falar tudo isso dá a impressão de ser uma louca-carente-neurótica-encalhada, mas quem é que nunca sussurrou baixinho "Deus, me dá um amor?". Disse isso outro dia pra alguém, me vieram com o clichê típico de que enquanto você estiver procurando não vai achar ninguém mesmo. É esse o saco da vida, você aprende o ditado desde criança que quem procura, acha. Aí vem o amor e muda tudo. Faz você mudar. Faz você passar de não-curto-namorar pra quero-dormir-abraçadinho. Esse tal de amor é louco. Eu, talvez, mais ainda, na maior das sanidades, assumindo que quero entrar de cabeça nessa loucura. E agora, pra terminar o drama, eu imploro: alguém, pelo amor de Deus, me resgata dessa realidade e me faz viver no sonho? Alguém, qualquer alguém, que não seja qualquer um, que não seja tanto faz, que não seja já-que-não-tem-tu-vai-tu-mesmo. Mas que seja alguém. Que seja um só-quero-você. Que seja o meu bem. Que seja o meu mau. Apareça. Outra vez. E chegue, e invada, e faça renascer a certeza de que gostar é bom, de que gostar faz bem. Alguém, pra não desperdiçar, enfim, mais uma das chances que o amor nos dá e sem querer-querendo, perdemos. E depois choramos.

domingo, 30 de outubro de 2011

Amar, amar e morrer na praia

Tanto que pensei toca telefone, toca, toca, por favor, como se de ficar olhando pra tela desse negócio ia aparecer seu nome aqui. Agora tudo que eu penso é para de tocar, me dá um tempo, não agüento mais essa tortura. Tanto que pensei bem que o destino podia me surpreender e quando eu virasse aquela esquina eu podia te encontrar, e agora que fujo que nem o diabo foge da cruz, eu viro a esquina e dou de cara com você. Impressionante. Não é que você errou fatalmente, não é que dessa vez em me derramei em lágrimas, nem que arrumei um playboyzinho da faculdade como você fala. É só que eu não agüento mais esses mesmos pequenos erros por tanto tempo. Faz tempo que já sei de cor seu arsenal de desculpas quase esfarrapadas quase convincentes, faz tempo que já sei de cor seu jeito galã de me pedir que te olhe nos olhos e veja se ainda existe amor ou não. Sei lá do amor. Eu só sei da minha canseira. De nadar, nadar, nadar, nadar. E sempre morrer na praia, comendo areia. Com terra na boca. Completamente fudida, morrendo de insolação, com uma mão na frente e a outra atrás, sem nada. Enquanto você, tá aí, em alto mar, desfrutando de um cruzeiro com drinks, sorriso abertos, como um rei. Não agüento mais tentar, dar chances, desculpas, só mais uma vez. A verdade é que de tanto rancor o amor já se encheu de dor e já não tem jeito de se manter inteiro, feliz, igual, entende? Não é raiva não meu amigo, não é vontade de acabar com você, não é vontade de dizer que você tem chulé pra suas futuras, muito menos vontade de dizer que você chamava suas ex de chatas. Não, não é isso. É vontade de mim. É muita vontade de mim, de não abrir mão da minha felicidade por você. De não aceitar mais um pedido de desculpas se não tiver atos que provem o arrependimento. De não acreditar mais em declarações, em ‘eu te amo’, em choros com soluços, em nada disso, se no dia seguinte não tiver a simples frase “eu firmo tudo que eu disse ontem, eu mantenho a minha palavra”. Porque eu não sei se você sabe, mas homem pra ser foda, não ter que ser gostoso não, tem que ter caráter, ouviu?  Então não liga, porque não é raiva, não é desprezo, não é cu doce. Nem eu sei que nome dar pra essa coisa que incomoda, me enraiviza, me pinica, me entristece, me endurece tanto. Mas amor, amor não é mais. Talvez alguma coisa parecida com “to de saco cheio de você”. Então entende meu saco. Afinal, pelo menos isso, nós dois temos em comum.

domingo, 23 de outubro de 2011

Das duas, uma.

Meu celular tocou. Um toque diferente pra quem faz sempre a mesma coisa. É sempre igual: primeiro você chega, invadindo minha vida como se ainda tivesse espaço, aí eu nego que te quero, depois te mando embora, depois você convence que me ama, aí assumo que te amo, depois peço pra você não ir embora nunca mais, aí você vai embora, então eu tenho certeza que você não me ama, e fico esperando você voltar. Mas dessa vez eu quero ser diferente. Não quero que você volte. Comecei trocando o toque do meu celular. Você precisa aprender que não é importante, você é como os outros, não precisa ter o privilégio de ter toque especial. De ter tempo especial. De ter tratamento especial. Aliás, quem precisa aprender que você não é especial sou eu. Preciso aprender tantas coisas, tantas. Aprender que minha vida não pode parar toda vez que você brinca de stop comigo. Aprender que eu tenho vida, por mais que você ache que não, mas eu faço uma faculdade, tenho trabalhos, provas, eu tenho amigos, eu tenho família, eu tenho a mim, eu tenho minhas coisas, eu tenho sentimentos, e eu não posso mais te colocar a frente de tudo, colocar suas vontades a frente de tudo, colocar o que você quer sempre à cima de tudo. Por que esse tudo sou eu. E você sempre me esmaga. E você sempre acha que não tem problema me machucar só um pouquinho pra você se satisfazer só um pouquinho. Chega. Eu já não suporto mais ser essa coisa frágil que você consegue manipular. Chega, eu consigo dizer não. Eu consigo dizer ‘vá embora’. Pra tantas pessoas eu sou mistério. Não consigo entender porquê pra você eu sou livro aberto. Pra aquele lá da faculdade eu sou metida, pro outro eu sou até que indiferente, pra aquele ali tenho cara de ser meiga, pra esse aqui do MSN eu sou difícil, pra aquele amigo eu sou impossível, pro meu melhor amigo eu sou demais, mas pra você, pra você eu sou transparente, fácil, inteira, sua. Não me importo, fui sua mesmo, fui sua o quanto eu quis, fui sua e adorei ser sua. Mas eu adorava porque via uma esperança quase de algodão doce sabe, quase infantil, de que seria difícil, mas no final daria certo. É que já passou tanto tempo e ainda não deu certo. Fico pensando que das duas uma: ou ainda não chegou no final ou eu que li muitos contos de fada. De qualquer jeito já não tenho muita paciência pra esperar, muito menos romantismo pra achar que eu vou ser a Cinderela que vai ser feliz no final da história. Vou mesmo é ser feliz do jeito é que dá. Traduzindo: vou ser feliz enquanto você não me incomodar. Traduzindo mais ainda: Não me incomode.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Fingir que é normal deixar o amor passar


Fazia mais ou menos uns dois meses que a gente não se via. Quando o tempo passa assim, rápido, mas arrastando uma saudadezinha, sempre me dava conta de que podia ser que nós estivéssemos nos perdendo. Começava a incomodar, tinha vontade de te ligar no meio da noite, mas não, tinha medo de atrapalhar seu relacionamento de fachada, tinha medo mesmo sabendo que era fachada, tinha medo que um dia deixasse de ser fachada e passasse a ser amor, e deixasse de ser amor comigo, entende? E vai que nesses dois meses  alguma coisa tenha mudado. As coisas podem mudar, não podem? Achava melhor ficar na minha. Na minha vida de viver bem, mas sempre faltar você. Na minha alegria nas baladas, mas sempre engolindo mais forte, mais rápido, mais ‘beba pra esquecer’ quando nossa música começava a tocar. Na minha vida de não precisar de você pra existir, mas querer muito existir ao seu lado, ainda. É, ainda. Por mais que o tempo tenha passado. Você mudou de emprego, comprou um carro, foi fazer inglês, desistiu do inglês, mudou o corte de cabelo, parou de ser visto nas baladas, fez fama de bem-casado. E ainda estamos aqui. Passei na faculdade, tava morena, fiquei loira, fiquei morena de novo, conheci gente nova, tive outros amores, comecei a ser vista ainda mais nas baladas, fiz fama de ‘já te esqueci’. E ainda estamos aqui. Aqui de vez em quando. Aqui quando a coragem de assumir que sim, sentimos falta um do outro aparecia. Aqui quando a gente largava essa mania estranha de ligar pro mundo lá fora, fingindo que não via, não sentia, não temia o que se passava aqui dentro e dava chance pro que realmente doía vir à tona. Hoje eu te vi. Tossi alto pra você não escutar o barulho do meu coração descompassado. Fiz um esforço enorme pra você não perceber minhas pernas amolecendo. Fiquei me perguntando se era um daqueles dias que você vinha dar um oizinho com uma desculpa qualquer só pra disfarçar a saudade, ou se era um daqueles dias que você vinha pra realmente matar essa saudade. É, porque de um jeito ou de outro a gente morria de saudade, e de um jeito ou de outro a gente entendia que era visível que gente se precisava. E quando a coragem não era tanta pra assumir, a gente se procurava pra um oi, tudo bem, quanto tempo. E depois? Depois voltava pra essa vida de fingir que é normal deixa o amor passar. Mas hoje não era um desses dias, hoje percebi pelo seu abraço de oi, que depois do oi vinha o beijo, e depois do beijo vinham as verdades. Aquelas verdades que eu passava dois meses sem escutar, e de repente você dizia. Que eu era a mulher da sua vida, que a gente sempre foi feliz, que não foi um erro, que essa dificuldade toda é só mais uma prova do quanto nosso amor é forte, de que sim, a gente com certeza ia ficar junto um dia. De que não, eu não podia desistir da gente, que eu precisava ter força, eu precisava acreditar no que você dizia sentir. Porque um dia ia dar tudo certo. E em duas horas dois meses de angústia desapareciam. E eu de novo voltava a ter certeza de que ainda estamos aqui, um pro outro, lado a lado, mesmo que tão distantes. Voltava a ter certeza de que nada que acontecesse ia mudar o nosso final feliz, porque eu, boba ou não, ainda acreditava que a gente poderia ter um. Voltava pra minha vida carregada de esperanças. Era isso, você carregava minhas baterias, entende? As coisas podiam não estar exatamente como nós desejávamos, mas a gente se carregava por horas e tinha força pra aguentar os meses que provavelmente iam se arrastar até a próxima vez, a próxima carga. E assim a vida continuava, ela não podia parar, eu sabia disso. Não dava mais pra ficar chorando em pensar que você só vinha de vez em quando, eu tinha que seguir, eu tinha que deixar a saudade pra lá e fingir que nada estava acontecendo. Você fingia sempre, eu também conseguiria fingir. Na verdade era fácil, distraia a vida com o dia-a-dia, e espera o destino te colocar na minha frente. Mais uma vez.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um pum esclarecedor

Você já reparou em como ela anda? Cabeça erguida, rebolando. Nunca vi ela repetir uma roupa. Nunca vi ela chorar. Ela parece uma fortaleza. Quando eu tinha 12 anos, eu olhava pra ela e parecia que ela era o que eu queria ser quando eu crescesse. Cresci. Tenho a idade dela. Agora ela deve ter uns 22. E ela continua com cara de princesa. E eu choro, borro a maquiagem, reparo que meu zíper tá aberto a seis quarteirões de casa e fico relembrando todas as pessoas que eu cumprimentei pra imaginar se alguma delas reparou. Eu tenho crise existencial porque eu simplesmente acho que não tenho roupa o suficiente no meu guarda-roupa para a quantidade de finais de semana que existem no mês, no ano, nas décadas! E o que acontece com ela? Será que ela tem um amor? Será que em algum momento do dia ela briga com a vida porque ela quer um sapato e a mãe dela não dá? Será que ela já levou um pé na bunda de querer morrer? Eu juro que fico me perguntando se ela já soltou um pum na vida. É incrível como de fora a vida das pessoas parece tão, inatingível. Claro que ela já teve um amor, e deve ter doído bastante também. E claro que ela deve querer roupas e não tem, querer bolsas e não tem, querer um namorado e não tem. Mas me parece que ela nunca quer nada, já tem tudo. Se me disserem que ela está solteira, nunca vou pensar que é porque ela sofre por alguém que não quer ela, irei pensar que é por escolha. Se me disserem que ela namora, vou pensar que ela faz dele o que bem quer, que pisa, que esnoba, e mesmo assim, ele nunca terminaria com ela. Ou mesmo pensaria que eles têm um relacionamento super do bem, que riem juntos, parecem dois amigos, que dá pra ver o amor saltando deles, que ela e ele saem com os amigos numa boa, que não existem ciúmes, nem problemas. Não consigo ver problemas na vida dela. Não iria acreditar se me contassem que aquele liso não é natural, não imaginaria ela me contando que caiu de quatro na rua e foi o maior mico ou que já foi chifruda. Pra mim a vida dela é resolvida. Sem nenhum podre, e eu aqui acumulando histórias que me coram de vergonha. Como ela consegue? Nessa cidade que você dá uma volta na praça e acabou o centro, que todo mundo é primo, ou amigo do primo de alguém. Como ela consegue ser tão discreta? Tenho vontade de cutucar ela e falar “Oi, me conta um segredo? Só um, por favor, por favorzinho!” na tentativa de parar de endeusar tanto e tornar essa criatura mais humana. Fico desejando que as pessoas também me olhem assim, como se eu não tivesse nenhuma aflição, nenhum porém, nenhum problema, nenhuma cicatriz. Tenho certeza que ela tem uma história, todo mundo tem alguma coisa pra contar.  Mas ela é indecifrável, e eu sou exposição. Quem me vê, já sabe qual é a minha música preferida porque quando ela toca, eu perco a voz de tanto berrar, quem é o meu amor porque quando ele chega, eu desmonto, já sabem qual é a minha maior dor porque eu choro quando falo nela, qual é a minha maior alegria porque não sei esconder sorrisos. Ela não, ela é simplesmente contida, numa paz que chega a ser monotonamente angustiante porque não demonstra sentimentos, hormônios, mudanças, agitações, nada. Calma, quieta, e mesmo assim, uma fortaleza. E eu aqui, tão intensa, que qualquer pancada me derruba. Tão explosiva, que o choro me vence. Qual é o problema dela será, hein? Será que é falta de pum? Eu solto pum, não perto dos outros, claro. Mas sei lá né, todo mundo solta. Acho que ao invés de pedir pra ela me contar um segredo vou pedir pra ela me soltar um pumzinho. Pode ser que não seja uma má idéia. Talvez resolva meus conflitos histéricos sobre uma vida que nem é minha. Uma boa idéia, não com aroma de flores, mas uma boa idéia..

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A múmia que não era intensa

Me disse assim: vai, escreve aí, qualquer coisa, você consegue, não sei da onde você tira tanta idéia. Apertar o play, tirar o coelho da cartola, fazer mágica, inventar histórias, elaborar bonitezas, em três segundos pegar o lápis, o papel e nem é preciso borracha, vai fluir, não é mesmo? Como se fosse fácil. Como se fosse automático. Automático é quando vejo que tô proseando em voz alta no chuveiro, faço três textos em menos de uma ensaboada, me vêem idéias claras, prontas, exatas. Saio do chuveiro, me enxugo, escorre a água, vai embora pelo ralo tudo que tinha se passado. Lá se foi o momento inspiração do dia, da semana. Tomara que um dia ele volte. E agora eu, aqui, me deparado com essa múmia de sainha rodada que me manda fazer brotar alguma coisa. Morro de raiva dela. Na verdade, morro de raiva de mim. Tô puta da vida comigo, tô puta. Não consigo falar, não consigo sentir, não consigo escrever. Esse meu vício de expressar vida intensa, acaba, sabe quando? Quando eu tô contente, quanto tá tudo tranqüilo. Esquisito, não? Escrevo tanto pra buscar equilíbrio, paz, serenidade, quando encontro, não consigo juntar frases, não consigo me juntar. Só sei ser no que é confuso, incompleto, só sei falar sobre o que não faz sentido, só sei dizer do morrer de amor que nasce em mim a cada novo relacionamento. Não consigo falar de felicidade, e da calmaria que é viver bem. Eu não quero viver bem, eu quero contraviver, contradizer, contradição. Eu quero ter raiva daquilo que não acontece nunca, quero sentir tristeza por aquilo que acontece sempre. Quero buscar alguma coisa. Estar equilibrada é estar parada, acomodada, empacada. Empacada no tédio que é ser feliz e não ter a chama acesa da impulsividade que te move pra frente, te joga do alto, te atira no chão, mas te movimenta. É isso, eu gosto do movimento. Do movimento da vida, que às vezes te dá, às vezes te tira. Do movimento das pessoas que às vezes vão embora, às vezes não saem do seu lado nunca mais. Do movimento dos sentimentos, que às vezes me fazem rir, em outras soluçar de chorar. Mas me fazem alguma coisa, entende? Da raiva e do amor, que se entrelaçam, se somam com a amizade, o desejo, a vontade, e formam um emaranhado de intensidade que move a minha vida. Só consigo ser pelo que me afeta, me inquieta, me fascina, me sacode. Respondi à múmia de saia que não ia escrever naquele dia porque não estava bem. Ela me perguntou se eu estava triste. Não, eu estou feliz, falei. Ficou com cara de quem me achava louca. Louca mesmo, respondi em voz alta.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Teoria dos seis meses

Sei que não adianta mais falar de coisa velha. Sei também que só se torna velho aquilo que ninguém faz questão de renovar. Não te culpo mais. Também não faço mais questão. Também errei naquele tempo em querer demais. Também errei ao tentar te fazer enxergar que nós valíamos o esforço. Quem sabe se eu não tivesse dado importância, quem sabe se eu fosse mistério. Mas eu fui o que sempre sou. E não deu certo. Tudo bem, já não choro mais. Mas foi numa daquelas conversas que você pega no meio. Daquelas que você não tinha que ter escutado, e nem queria, mas foi invadido com um pensamento que te marcou. Ela com voz de compreensiva e olhar de saco cheio, esperou a outra pessoa terminar a ladainha do outro lado da linha e disse “Eu entendo amiga. É a famosa teoria dos seis meses: durante seis meses tem dia que dói, em outros você esquece! É assim mesmo..” Parei. Olhei pra cara da moça. Ela me olhou com cara de pare de ouvir minha conversa. Desviei o olhar. Comecei a contar nos dedos se fazia mais ou menos que seis meses. Sete. Com a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos que sempre escuto em campanhas políticas, me inclui na teoria. Tinha achado a explicação pra essas crises repentinas que às vezes chamava de angústia, às vezes de TPM, às vezes de não to afim de conversar, às vezes de não é nada só estou cansada. E eu realmente estava cansada, mas era dessa mania chata de às vezes você me doer. Não era sempre, era quase nunca, mas ainda era. Sei que tinha dias que seu nome não me irritava, falava do nosso passado com aquela alegria de quem viveu um tempo bom, com um sorriso de quem assume que apesar de tudo foi feliz, como se não tivessem ficado mágoas. Tinha horas que minha gargalhada saia alta, eu realmente me sentia superada, até fazia piadas como quem se divertia com os próprios enganos da vida, e realmente pensava porque diabos um dia eu achei que só poderia ser completa se te pertencesse. Eu me pertencia, e me completava. E quando achava que era muito triste viver sozinha, me deixava conscientemente cair na lábia de qualquer candidato a garanhão por ai e aceitava um novo quase-amor. Tinha semanas que parecia que você era completamente nada, que eu dava tudo para a quase-paixão. Me esforçava e tentava fazer com que fosse durar. Sempre me esquecia que se esforçar demais nunca dava certo. Voltava pra minha auto-suficiência. Vivia um tempo tranqüila, depois você me doía. Me doía quando de repente percebia que o meses realmente te levaram pra um lugar chamado memória. Só lá eu te encontrava. Só por ela nós nos falávamos. Nela você ainda ria pra mim. Aqui, agora, hoje, nesses dias que parecem que tudo é chato. Nessas horas em que eu penso desesperadamente em te ligar, mas não ligo. Nessas horas que desesperadamente em penso em chorar, mas não choro. Nessas horas que desesperadamente queria um abraço, mas não peço, e continuo com a desculpa de que essa cara de quem perdeu o amor da sua vida mas não pode, não quer, e nem sabe fazer nada a respeito é só cara de cansada mesmo. E aí tenho certeza de que você ainda me fere. E nem sei se é bom ou ruim você doer só de vez em quando, porque parece que quanto mais tempo você passa sem dar o ar da graça em minha mente, mas é a intensidade da falta que eu reconheço que você faz quando você surge. Bem nesses momentos que não se pode surgir. No meio da aula de filosofia, onde não posso perguntar por que a gente ama errado pro professor já que ele está discutindo lógica. E que lógica tem o amor, não é mesmo? No supermercado, onde não posso perguntar pro moço ao lado porque ele tem um cheiro tão parecido com o seu. Porque não se vende amores limpinhos no supermercado, não é mesmo? Na rua, onde não posso perguntar pra moça que fala ao telefone como é essa teoria. E será que depois dos seis meses passa? Deve passar, não é mesmo? Quem sabe amanhã, quem sabe depois. Deixo a dor doer o quanto tiver que ser doída, agora sei que ela vem, incomoda, depois vai embora. Não me desespero mais, vou seguindo a teoria. Um dia sem amor pra se viver, em outro morrendo por tudo que acabou. Assim eu vou. Está tudo sob controle, eu me garanto, não se preocupe, um dia tudo isso passa.

domingo, 21 de agosto de 2011

Não querer depois que eu não queria

Me deu o fora. Na verdade, quando percebeu que eu tava saindo do jogo, resolveu dar o xeque-mate. Mostrou as cartas na manga, as asinhas na asa, as máscaras na cara. Revelou-se. Me fiz inteira de sinceridades, e de todo o coração pedi desculpas e disse que não queria mais. Ele, com total ignorância e imbecilidade disse que eu era uma neurótica por relacionamentos, compulsiva por amores e que não, quem não queria mais nada comigo era ele. Aliás, nunca quis. Tudo bem, morri de raiva dele por cinco segundos, logo depois ri do seu papel infantil por mais trinta segundos, e depois esqueci, pelo resto do dia. Durmi, acordei, dei bom dia pro espelho, xinguei o sofá porque bati meu dedinho, dei comida pra minha cachorra, ri das piadas do meu melhor amigo, não lembrei nem um segundo dele. Ele quem mesmo? Ah é, ele. Ele, que estava a essas alturas procurando um jeito de me causar ciúmes, primeiro me por me ignorar, depois por me provocar, por último, por achar que consegue me rejeitar. E eu rindo. Rindo porque se eu não risse, acabaria por ligar, e falar "Olha aqui seu ridículo, você acha realmente que eu to chorando por você? Você acha que realmente era verdade quando eu te disse que não imaginava mais minha vida sem você? Você acha que chamando minhas amigas de linda você consegue me tirar do sério? Vai a merda, bobinho!". Praticamente um menino, que não sabe o que é irritar uma mulher. Sabe, beija uma velha capenga na minha frente, passa na rua e atravessa de calçada, fala mal do meu cabelo, começa a namorar outra. Mas não vem com esse papo juvenil de falar de mim por entrelinhas, e tentar me afetar com seu veneno. Isso é melhor que cocegas pra mim, me causam sérios ataques de risos, me rejuvenesce mais que creme francês. Você não passa de um gosto azedo que fica na boca depois que se chupa limão. Entende? Não é ruim, não me causa náuseas, não atrapalha meu dia, só é azedo, por pensar que não teve o gosto que eu achei que teria, aquele gosto doce que eu imaginei. Não passa de alguma coisa bem nojenta, que eu dei descarga e jurei pra mim nunca mais fazer a mesma cagada. Mas quer saber? Nada disso tirou meu sorriso do rosto, porque no final das contas, a melhor coisa que você fez por mim foi não me querer (ou não me querer depois que eu já não te queria). Me vieram tantos outros gostos, melhores que os seus. Tantas outras vontades, mais deliciosas que as suas. Tantos outros homens, que não se faziam de moleque, como você. Mas pode ficar aí. Você, e sua enrustida mágoa pelo meu pé na bunda. Você, e sua engraçada mania de tentar me afetar. Você, e você. No final das contas, sozinho. E eu, no final das contas, feliz. Feliz por saber que seu esforço contínuo de me atingir acaba atingindo a você mesmo. Feliz, por saber que não é qualquer um que azeda minha doçura. E se tem uma coisa que eu aprendi é que homem, fome e vontade de ir no banheiro incomoda, mas não mata. E me desculpe o trocadilho, mas eu é que não vou morrer por qualquer merdinha, não. Mas não mesmo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Você não acredita

 Estranho mesmo é desejar voltar pra uma vida que você quis tanto sair. Estranho mesmo é achar que é lá que mora a felicidade. Lá, exatamente ali. Em um tempo que não volta mais. Estranho é ter que tratar com educação, com uma cordialidade nojenta quem você tratou como seu, quem você achou que pudesse possuir. Horrível é ter que ver ele passar e alguma coisa prender seu pé no chão dizendo que não, simplesmente você não pode pular na frente do carro e dizer "Por favor, olha no meu olho outra vez! Nem que seja só dessa vez". Não, você não pode sair gritando "Por que você não me quer mais? O que eu fiz pra merecer isso?!". Não, você não pode fazer isso. E também não pode querer obrigar que ele engula sua presença. Se ele te evita, tem motivos pra isso. E evita sabendo que está evitando, então não há necessidade de passar na frente dele pra ele te perceber ali mas fazer a completa questão de virar a cara pra você. É como se você se vestisse com uma roupa de palhaço, pisca-alertas, luzes e sinalizadores pra ganhar um olhar em sua direção. Mas de que adianta? Ele vai rir do seu papel de tonta, vai balançar a cabeça como quem diz que tudo aquilo é um absurdo. Que você é um absurdo. Que esse amor é um absurdo. Não dá. Não tem jeito de reatar o que não tem volta. Talvez não tenha jeito de consertar uma mentira. Quem sabe se fosse verdade. Quem sabe se tivesse sido verdade todas as palavras ditas, quem sabe se todos os sorrisos tivessem sido sinceros, quem sabe se aquele te amo tivesse sido verdadeiro. Quem sabe.. Mas não foi. E não se conserta o que nunca existiu. Não se pode implorar abrigo pra uma pessoa que te joga no meio do tiroteio. É impossível pedir por favor pra quem tem um coração gelado, pra quem só nota o próprio umbigo. Ele não vai sentir, ele não vai ligar. Ele não estará se importando quando você estiver sozinha, rezando pra que pelo amor de Deus, não faça com que ele suma da minha vida, Amém. Ele não sentirá saudade. Ele não virá mais em nenhuma noite. Ele simplesmente não estará lá quando seu peito estiver apertado. Ele não vai querer te curar. E você rastejará por notícias. Recorrerá à cartomantes e à informantes pra saber como ele tem passado, por onde ele tem andado, se ele ainda está brincando de ser feliz enquanto destrói sua felicidade. Você tentará descobrir cada atitude que ele tomará, cada passo, cada movimento. Mesmo sabendo que isso doerá demais. Porque em qualquer direção que ele for, cada vez mais longe ele estará de você. E não adianta tentar ligar pra ele no meio da noite, não adianta tentar convencê-lo que o amor está aqui, que a felicidade dele está aqui, que ele não encontrará em mais ninguém o que só acha em você. Não adianta. Ele não acredita. Ele não acredita que exista uma coisa chamada destino, acaso, karma, sina, elo, laço. Ele não acredita no amor. Ele não acredita em você. Ele realmente acha que o que passou, passou. Então eu, tentando seguir a mesma linha estúpida de raciocínio, tentando entrar naquela mente tão amarga, fria, insensível, comecei a pensar que sim, talvez ele esteja certo. Nada daria certo. Um dia eu teria mesmo que chegar a conclusão de que tudo não passou de um engano. E que não se pode adiar o fim, não se pode mudar o inevitável. E o que não tiver que ser, não será. Não adianta reza brava, macumba, novena. Não adianta esmurrar a porta, se perguntar porquê, chorar, insistir. É triste, mas algumas coisas simplesmente nascem pra um dia darem errado por mais que a gente faça tudo certo. Eu tentei, eu juro que tentei. E talvez minha maior mágoa seja essa: certas coisas não dependem só de mim. E nosso amor? Bom, nosso amor só existirá quando você lembrar que eu ainda existo. Bem aqui.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Iremos estar "para sempre"


E aí eu me vejo sem você. E a hora não passa, a semana não passa, a calça não entra, o repórter da tv tem o seu sobrenome, eu não consigo parar de comer chocolate, todo mundo me chama de mal-humorada, mal-educada, mal-amada. E que bonitinho o seu filhinho, amiga. Como chama? Ah, jura? Nome horrível, não é mais bonitinho. E tudo fica um tédio, a vida é um tédio, minha família tão divertida e cheia de agradáveis e amorosos erros vira a soma de todos os meus complexos, odeio todo mundo. Eu me odeio. Eu te odeio. Tudo, tudo vira uma bela bosta pra falar a verdade descarada. E esses dias lentos tão cheios de mágoas remoías, promessas não compridas, beijos não dados, esperanças desperdiçadas, esses dias somem assim que eu te encontro, e a vida fica leve outra vez. Colorida. A calça não estava entrando, mas me animo pra entrar naquela academia. E é pra essa família esquisita que eu quero te apresentar. E pra falar a verdade o nome do filho da minha amiga é lindo, meu filho vai ter esse nome. Meu filho vai ter esse pai. E meu sorriso sempre aberto volta, e tudo é lindo, tudo é tão cheio de significado, a vida fica tão sonora e tranqüila. Eu gosto da paz do teu encontro. E aí eu me vejo com você, e todos os monstros não existem mais, e todas as minhas preocupações sobre amor, e sobre a falta de amor.. Cadê? Pra onde foram? Não sei, só tenho olhos, ouvidos, pernas, bocas, coração. Tudo, tudo é pra você. E quer saber de uma coisa, a mais foda de todas? Lá vai: te amo mesmo sabendo que você vai sumir, te amo mesmo sabendo que você mente, te amo mesmo sabendo que você me ama mas não vem me amar, te amo mesmo não sabendo de nada. E adoro esse amor. E adoro aquela angústia absurda de pensar que você não me quer mais, de pensar que você sumiu pra sempre, e adoro mais ainda quando você volta e eu falo “Ufa, eu tava errada, olha o jeito que ele me olha, olha o jeito que ele me aperta. Não foi dessa vez que ele foi pra sempre! Graças a Deus.” E adoro aquela vontade de te matar, porque depois das suas gracinhas sem graças você me diz que ama ver a minha carinha de brava e aí eu amoleço. E adoro que você confunda meu nome, porque sei que é o charme pra eu te bater, e pra você falar bate mais, e pra mim falar que vou embora, e pra você falar que não vai deixar, e pra você não me soltar, e pra você me encher de beijos e desculpas. E adoro essa sua mania de arrumar outra, porque no escuro do quarto, e no fundo da alma, você confessa baixinho que não há ninguém como eu, não há ninguém como nós. E eu adoro seus erros. Porque um dia você acerta, e me faz a mulher mais feliz do mundo. E eu adoro o telefone que não toca, porque um dia ele toca, e é você, e eu tremo tanto que quase não consigo apertar pra atender. E eu adoro beijar outros caras, completamente sem papo, sem graças, sem gostos, pra lembrar o gosto que a sua boca, só a sua boca tem. E eu adoro essa distância que me faz querer morrer, que me faz querer saber como foi seu dia, porque vai chegar o dia em que eu vou ser seu dia, sua rotina, sua história, seu presente. E iremos estar mais perto do que juntos, iremos estar pra sempre. E eu adoro esses dias tristes, pesados, sem sentido, sem cor, sem você, porque sei que mais cedo ou mais tarde, você vem pra iluminar a minha casa, a minha vida, o meu sorriso. E quer saber? Obrigada por não me amar como eu queria, obrigada por não fazer o que sonhei, obrigada por ser o perfeito patife que desperdiça tanto querer, tanta vontade, tanta paixão. Isso faz com que nosso amor seja muito mais esperado. Isso faz com que o encontro seja tão intenso, que fico na espera de você sumir logo, pra você voltar logo, pra te reencontrar de novo. Isso faz com que meu sonho de viver a vida com você cresça a cada dia mais. Isso faz com que eu tenha uma vontade enorme de provar pro mundo que o errado, um dia pode dar certo. E dará. Dizem que os fins justificam os meios, não é? Pois é.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Preguiça de você

E eu tinha uma preguiça tão grande de você. Aquelas preguiças que a gente tem no domingo a noite, sabe? Daquele tipo que gente até sente vontade de fazer alguma coisa, mas já fez tanto, que acaba não fazendo coisa nenhuma. Eu tinha uma preguiça enorme de repensar nossa história, e de refazer planos pra que algum finalmente desse certo, e de retentar jogar seu jogo pela milésima vez, e de refingir que não sentia nada, e de remandar você embora. Nada disso adiantaria. Mandar você embora de novo, seria falar pra pinico escutar, por tantas vezes te mandei sumir, e você nunca foi, você nunca vai, você sempre volta. E de um jeito ou de outro, sabemos porquê. A nossa história já tava tão repensada, que mais uma recaída, mas uma tentativa, mais uma chance, seria inútil. De tanto repensar já sabia de cor o trágico fim que isso provavelmente iria ter outra vez. O seu jogo, camarada, eu desisti de jogar, nunca consegui aprender ele mesmo, sempre perdia, o jogo sempre acabava no momento em que meus olhos se enchiam de lágrimas. Pronto, game over pra mim. E eu não tinha mesmo mais motivos pra fingir, tudo que eu sentia tava estampado na minha cara. Não fazia mais questão de esconder, muito menos queria demonstrar. Deixa como está, deixa. E os planos, bom, quanto aos planos nenhum tinha dado certo até aqui mesmo. Os planos de te conquistar foram barrados pela burocracia do seu coração de pedra. Os planos de te esquecer, foram por água abaixo quando eu, ingênua e burra, reencontrava seu sorriso. Os planos de sumir da sua vida, deram errado, no sentido que quanto mais eu fugia, mas você me procurava. Meu estoques de planos mirabolantes já tinham acabado. Agora eu tinha um novo plano: eu não tinha plano nenhum. E o que você vai fazer quando ele te procurar? Não sei. E como você vai agir se ele tentar te beijar? Não sei. E você não sente que está nas mãos dele como sempre? Não sei. E afinal de contas você quer que ele vá ou quer que ele fique? Não sei, não sei, não sei. Era tudo que eu sabia responder. Eu não sabia o que eu queria, nem o que eu deixava de querer, e pela primeira vez na vida isso não me causou aquela angustia que atormenta, muito pelo contrário, me causou uma paz enorme, se quer saber. Porque não sabendo qual era a minha intenção, eu simplesmente não me sentia culpada de nada. Não sabendo se te amava ou se te odiava, eu não sentia necessidade de ter que te esquecer até acabar meu dia. Não sabendo se deixava você entrar ou se te mandava embora eu não corria o risco de acabar chorando depois que eu batesse a porta na sua cara ou depois que sua boca batesse na minha boca. Eu simplesmente parei de correr maratonas pra te alcançar, deitei no sofá, e coloquei na minha cabeça que nada mais tiraria meu sono e meu sossego. E se você tocasse a campainha era tanto faz, pode entrar, a porta tá aberta, mas não levanto daqui não, não movo mais nenhuma palha. Já me cansei demais indo abrir a porta pra você com toda esperança nos olhos, pra no final você dizer que só estava mesmo de passagem, que nem iria entrar de verdade. Chega, me deixa aqui com meu humor zen, minha risada irônica, minha tpm exagerada e talvez, em alguns dias, meu choro molhando o travesseiro. Não altere mais minha paz, não me faça mais declarações no meio da noite, não me peça mais pra deixar o tempo curar e não, não faça mais perguntas difíceis. Nem você, nem mais ninguém. Não sei o que pretendo agindo assim. E quem disse mesmo que toda ação tem que obrigatoriamente ter uma pretensão? Agora, rapaz, eu só tenho certeza é de uma coisa: tenho uma preguiça enorme de te mandar embora, e outra preguiça maior ainda de fazer com que você fique. De agora em diante, eu sustento o que eu não sei, e não me responsabilizo mais pelas coisas que você não sabe, pelo amor que você não sabe se sente, pela falta que você não sabe se faço, pela história que você não sabe se vive. O que você não sabe, me desculpa, mas agora é problema seu. Se resolva com seus conflitos internos e me deixe aqui com a minha paz. Sinceramente, tô com uma preguiça enorme de levantar do sofá e tentar reviver esse amor. Deixa, deixa ele assim: morto, calmo, tranqüilo. Deixa, que só eu sei a canseira que ele já me deu. Deixa.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Eu, eu mesma e minha cabeça dura


Oi, to aqui me lembrando de como você vive sonhando, sonhando, olhando pro céu e imaginando que alguém também estaria olhando pra esse mesmo céu. Não, ele nunca olhou pro céu e pensou em você, homens não costumam fazer muito isso, me desculpe. Talvez ele se lembre de você quando passar com outro na frente dele, ou quando os amigos dele comentarem que ele perdeu um prato cheio, ou talvez quando ele perceber que mesmo experimentando várias, nenhuma supria a sua falta. Mas não, esquece esse lance de olhar o céu, no máximo ele olha pro céu pra ver se vai chover. Sabe querida, eu não quero te machucar, mas eu, eu não sonho mais. Não sonho porque aprendi, cresci, mudei. Ainda continuo com aquela mania irritante que você tinha de coçar o nariz de cinco em cinco minutos e meu gênio não melhorou com a idade não. Mas parei de sonhar com amores impossíveis. Casei. Não, não foi com o seu primeiro amor que eu casei, e também não foi com o segundo, nem com o terceiro. Muitos vieram, chorei e achei que ia morrer por todos aqueles, lembra? E tudo aquilo que você achou que nunca ia esquecer, acabei esquecendo. Ontem encontrei com aquele, o que mais doía em você, sabe? Encontrei num posto de gasolina. Eu abastecendo o carro do ano, ele trocando o pneu de outro, com o cofrinho peludo aparecendo, sujo de graxa, provavelmente o frentista. Olhava, olhava, sabia quem era, mas não conseguia lembrar o nome do sujeito. Acho que ele também sentiu a mesma coisa, me olhou, fez que vinha e não veio, fez uma cara triste, quem sabe arrependido de ter desperdiçado tanto. Eu não me arrependi de nada, ouviu? Não corra mais atrás dele, ele virou um careca, gordo, que meche no nariz e coça o saco em público e daqui a quinze anos você não vai lembrar nem o nome do troglodita. Você acha que isso nunca mais vai embora, né? Mas foi, passou, como eu disse, nem lembrava do nome dele. É só dar tempo ao tempo, só deixar outras pessoas chegarem, você sempre tem a mania de achar que tudo é eterno. Mas não é, não vai ser. Não vou ficar dizendo com quem eu casei, quantos filhos eu tenho e tudo mais, isso faria com que toda a graça fosse perdida. Além do mais você iria se achar muito se pudesse ver o nosso futuro, coitada das suas amigas. Só eu sei o quanto elas deveriam ganhar um premio por agüentar suas chatices. Mas digo que casei com uma pessoa que você nem imaginaria. Não, não estava perto de nós o tempo todo, conheci de repente, deu certo de repente, e me fez esquecer tudo de repente. Tive mais filhos que queria, e mais do que seus peitos agüentaram, confesso. Depois do terceiro eles cederam à lei da gravidade, você ficou puta comigo, mas queria te lembrar que na hora de fazer foi bom pra você né? Então não reclama. Sou feliz, de um jeito que você nunca pensou em ser: de um jeito tranqüilo. Você supunha que felicidade era agitação, aventura, intensidade. Eu escolhi a paz, escolhi o carinho, zelo, amor ao invés das paixões, da ilusão, da inconstância. Agora tenho a certeza de tudo, menos de como seria se eu tivesse feito do seu jeito. Mas tenho certeza que se tivesse seguido aquele seu velho sonho de ser independente enquanto seu projeto a marido não tinha nem o ensino médio completo não iríamos acabar muito bem não. Meu marido querida, causa inveja num raio de 8 km, e você aí sonhando esse traste, que não consegue falar uma frase sem colocar no mínimo cinco gírias escrotas no meio, vou te contar viu. Se dependesse de você, a gente ia tá é na merda agora, sendo eternamente classe média, ralando um ano inteiro pra passar 5 dias em Ubatuba, faça-me o favor. Tô falando tudo isso que é pra ver se você acorda, muda de rumo entende? Eu cheguei aonde cheguei com muito esforço, tive que driblar suas vontades de fazer besteira, tive que escolher minha vida mesmo com você atrás contrariando tudo. Que não é assim, que prefere aquele homem grosso, que preferia aquela amiga falsa, que preferia aquela vida fútil, que não gosta que ninguém mande em você, que quer fazer as coisas do seu jeito. Aaaaaaai, como você me atormenta, às vezes tenho vontade de tapar sua boca com uma rolha pra ter sossego. Acorda menina, acorda que se você começar a escolher certo agora, vamos ter bem menos trabalho pra concertar tudo depois. Olha pra mim. Sou sustentada sim, faço a unha toda semana, você não tira mais nossos próprios bifes, ouviu sua mutiladora? Cabelo, roupas, shopping, motorista, cartão de crédito. Tudo, tudo sem limites. E você aí andando em cano de bike, achando que o salário mínimo dele daria pra vocês fugirem juntos e se acabarem na areia da praia fazendo amor. Ah, criatura de Deus, para de graça, muda de foco, hein? Sabe o Henrique, por exemplo, você não dá nada pra ele né? Se eu fosse você daria tudo, e ainda dava sem camisinha pra ficar grávida, porque menina, ele vai ficar ricaço (feio, mas rico) e vai viver sozinho. Se eu fosse você aproveitava. Ou então fica com esse aí, e mais pra frente vai ajudar ele a trocar pneu no posto de gasolina, amor. A vida é sua mesmo, quem vai se ferrar é você. Só não se esqueça que você vai se tornar eu, e se você fizer todas essas loucuras que você tem em mente, vou ter tanta raiva de você e da sua juventude que não conseguiríamos ter uma relação amistosa. Porque quem planta merda hoje é você, quem vai colher amanhã sou eu, então cuidado, que quase sempre a gente se arrepende por ter escolhido errado enquanto podia escolher. Hoje tudo o que eu posso fazer é pedir pra você prestar atenção com o que você fará das nossas vidas. Tomara que alguma coisa de útil tenha entrado nessa sua cabeça dura, menina. Te vejo mais tarde, daqui alguns anos, quem sabe. Cuide-se. Cuide-nos.

domingo, 8 de maio de 2011

Depilação, neuras e uma solução


Vou montar um puteiro. Eu nunca vi um puteiro de homem, quer dizer, um puteiro pra mulher que tenha homem. Tão simples, ia resolver tanta coisa. Ah, tanta coisa. Essas neuras de nossa não me depilei, nossa justo essa minha calcinha que é velha, noooossa minha calcinha é de listra vermelha e meu sutiã de bolinha azul, que brega. Sem contar que ninguém mais ia se preocupar em esperar dar o terceiro mês pra poder dar. Puts meu, só de pensar que meu último relacionamento acabou há 5 meses, e depois que acabou não acabou de verdade - sabe aquela coisa chatinha de que você namora por semanas no telefone? Chega da faculdade, ele te liga. Vai na esquina, ele te liga. Vai no banheiro, não chama o Alfredo, chama ele. Aaaaah, que coisa chata! Não termina, nem ta presente pros finalmente, me entendem? E nisso fica esse chove-não-garoua e você não beija, não molha o bico, quem dirá molha outra coisa, né? Eu não gosto de esperar o terceiro mês, porque muitas vezes, antes do terceiro mês, o bendito do pobre ser humano que participa ativamente da relação, já fez o santo favor de estragar ela, ficando de gracinha com a primeira fulaninha que eu tenho nojo. Então tá decidido, vou abrir um puteiro! Mas o esquema de seleção para os rapazes tem que ser muito bem definido. Ninguém pode ter olho azul, olho azul me lembra meu primeiro namorado que era uma belezinha, não vou conseguir deixar as clientes ficarem se agarrando naquele zóinho bonitinho. Olho azul corta. Hm, deixa eu ver.. Loiro eu deixo, nunca gostei muito de loiro mesmo, e eu tenho a impressão de que todo loiro tem bafo, então loiro tá liberado galera! Bom, branquelo pode. Japonês? (hahaha, acho que não vai ter muita procura né, mas tudo bem, depois começam a falar que a dona do puteiro tem preconceito, aí já viu, melhor contratar pelo menos um!), nordestino também pode (vai que o tamanho das cabeças sejam proporcionais né, dê mais prazer, sei lá, vamo testar!) Já moreninho, eu vou ficar com um certo ciúmes, só pra clientes VIP’s eu empresto! Mas se o sujeito me parecer com o Alexandre Pires, aí vai ser exclusividade da dona do Bordel, vou querer só pra mim, não tem nem negociação. Mas a gente pode pensar em contratar uns queimadinhos né, dizem que esses, meninas do céu, quem já teve um na vida, nunca mais esquece! Chinês acho que ninguém vai querer, dizem que tem o olho muito fechado, nunca acertam o buraco, e baianos são muito devagares minha gente, oxente mainha, nunca vão estar dispostos. Mas eu prometo que penso em profissionais de qualidade, e experimento todo mundo antes e vejo se aprovo. Ninguém mais vai sofrer por amor, ninguém mais vai precisar pensar ‘puts, vou sair com ele e lá embaixo nada tá em bom estado, justo hoje’. Minha filha, ele nunca mais vai ver o seu lá embaixo. Você talvez nunca se esqueça da cara dele, da noite com ele, mas ele nem vai ligar pra sua pequena penugem. Ele não vai ligar se você tirou o bigode ou não. Ele não vai ligar se você retocou suas luzes ou não. E o mais importante: ele não vai te ligar! E você que fique é muito feliz por isso, porque não estou fazendo propagandas enganosas, estou te prometendo uma noite muito agradável. Tantas mulheres já foram felizes, tantas vezes na vida, e ainda ficam procurando uma felicidade lá na frente, aonde não tem, aonde não pode, aonde não existe, sem se darem conta, de que não se busca a felicidade no futuro, se nota a felicidade no passado. Quando você acorda (às vezes pelada, com dor de cabeça, com a sua melhor amiga num estado pior que o seu, suplicando Jesus, acenda a luz por favor e responda aonde é que eu estou, em outros casos não) e relembra “nossa, ontem foi divertido, né?”, talvez isso seja felicidade. Não busque muito. Busque somente. Eu, nesse momento, estou buscando somente um puteiro. Tá, tô sonhando alto demais, né? Um homem? Ainda é muito? Um vibrador? O dedo??? Ai gente, pelo amor de Deus né, aí já é demais. Tá bom, cansei, vou dormir sozinha mesmo.

domingo, 1 de maio de 2011

Um "te amo" e mais dez quilos

Te Amo. O que? O que que eu to ouvindo? Repete, não, por favor, repete. Te Amo. Meu filho, você tem noção de quantos meses fazem que você sumiu? Você tem noção de quantas noites eu fui dormir abraçando o travesseiro, falando pra mim mesma: imagina que é ele, pensa que é o cheiro dele, pensa que é o gordinho das costas dele. Criatura, não te ensinaram nada na vida não? Você não pode dizer te amo assim, sem mais nem menos. Um te amo mexe muito com as pessoas. O seu não-te amo mexeu muito comigo, me fez chorar todo dia porque eu não te tinha, me fez engordar 10 quilos cara (vai tomar no cu!), me fez ficar com outros caras e ter nojo desses coitados que nem sabiam porque eu tinha vontade de matar os pobrezinhos. E eles me dando flores, me dando tantos te amos, me dando abraços sinceros, e eu nunca quis isso, por causa do seu não-te amo. Você consegue entender isso na sua fragilidade mental? Consegue entender que eu não tive vida? Eu existi somente, passei pelos meus dias, sempre com as mesmas perguntas na minha cabeça: por que ele não me ama? por que eu não consigo fazer o olho daquele desgraçado brilhar? por que ele prefere ser simpático com o mundo e um estúpido comigo? por que eu perco o meu tempo com ele? e por que ele perde o dele comigo? por que mesmo a gente sabendo que tudo tá errado a gente continua? Porque a gente se amava, e eu sempre soube disso sua anta, eu sabia, eu avisava você! Agora vem você me dizer que demorou pra perceber, mas agora descobriu que era amor? Claro que era amor porra! Se não fosse amor eu ja teria desistido faz tempo dessa lenga-lenga toda, não acha? E então vem você com essa carinha de príncipe me dizer que agora vê o quanto tempo a gente perdeu como se tivesse descoberto a eletricidade, né? Nossa, que descoberta!! Eu chorei muito ao ver que o tanto de amor que eu tinha, você jogou no ralo, e agora o que você espera? Que só porque você deu uma de mãe Dina, você espera que todo o amor que eu tinha por você, ressurja em um segundo? Só por causa de um te amo simpleszinho? Pois é filho da mãe, ele ressurgiu. E tudo que eu sentia, que eu achava que já tava calmo dentro de mim - não morto, mas escondido- voltou a aparecer. Mas pra você sempre foi fácil, passou um ano sem a menor preocupação em dizer que me amava, e quando eu não precisava mais escutar, me falou. E aí muito o que bem né, o que fazemos com tudo isso? Porque quando você quer aparecer, você aparece que nem um flash: rápido. Mas do jeito que chega de frente, vai embora de ré, não da nem meia volta pra não gastar energia. E eu? Meu amor não é flash, meu amor é luz, aonde quer que eu esteja, ele tá aqui comigo, essa desgraça de amor tá aqui comigo. E por mais que eu queira me esconder, sempre tem um pontinho de luz, e um pouquinho do seu amor, que me lembra você. Muito obrigada por me amar de volta, eu não te disse, mas eu te amo também. Mas quer saber? No meio dessa vida complicada, acho que só a gente se amar, não basta, não resolve muita coisa, não é? Bom mesmo seria é se você pudesse estar aqui, como flash ou como luz.

domingo, 17 de abril de 2011

Saudade do seu mundo

Acho mesmo que o final é simples. Quando se enrola muito pra colocar um fim, é porque não se quer que termine. Quando se fala não quero mais olhando nos olhos, quando por mais que você abrace forte e fale não vá embora, ele vai. Não tem mais jeito nem volta. Acabou, é simples. Mas e depois? Relacionamentos têm data de início na aliança, mas não começou exatamente ali, muitas vezes o amor vem antes, o querer veio antes da data. E quando se termina, pra um, o amor já não existe, mas pra outro a data do fim é só uma data, porque o amor não tem hora marcada pra acabar, ele permanece e vai morrendo aos poucos. E assim eu fui, fazendo com que você morresse aos poucos dentro de mim. Depois que você terminou comigo, fui tentando terminar pouco a pouco com você. Primeiro comecei a jogar fora todas as coisas que lembravam você. As ruins foram acabando, a raiva passou, a vontade de te matar passou, hoje só uma dorzinha apertada aqui no peito. As boas, juntei tudo numa caixa, guardei como se fosse um porta-retratos da época mais feliz que já tive. Depois, fui terminando com seus amigos, pra evitar que falassem de você pra mim, fui ignorando os comentários sobre nós dois, e seus amigos, que já tinham virado meus por conseqüência, deixaram de ser meus, hoje comprimento só com um oi e tchau. Fui deixando nossos hábitos pra trás, rompi com os lugares que você freqüentava, colocava como proibida a rua da sua casa como se ali fosse um campo minado. Também deixei terminantemente proibido vasculhar sua vida na internet, exclui do orkut, deletei do msn, ignorei seu numero no meu celular. Em hipótese nenhuma você conseguiria falar comigo. Quis te evitar, meu Deus, como quis te evitar, só eu sei o esforço que fiz. Muitas vezes inútil, eu pensava, porque você mesmo se encarregou de sumir da minha vida, mas fazendo isso, sentia que estava te chutando, pelo menos agora. Acho que depois de alguns meses que você terminou comigo, eu consegui realmente terminar com você. E hoje vejo que sou feliz assim, meu sorriso voltou a ser sincero, minhas risadas voltaram a ser escandalosas, o fluxo está seguindo e estou vivendo muito bem, obrigada. Voltei a minha vida de muitos pretendes de uma vez só, voltei a escolher quem seria o da vez. Confesso que as vezes paro e penso que não adianta eu ficar colecionando álbuns se perdi a figurinha mais premiada, mas nessas horas, já me vem um para de ser boba menina, você tá muito bem sem ele, para de graça, e aí, eu paro de graça. Não consigo ainda dizer que meus dias são mais felizes do que antes, mas pelo menos já posso dizer que minhas dores de cabeça diminuíram bastante, e pra falar a verdade, não sinto sua falta. A gente sente falta do que foi bom, e sei que você não foi bom pra mim. Tava cansada de me sentir diminuída, aos pedaços, implorando pra você juntar meus cacos, pedindo que pelo amor de Deus você desse uma parte de você enquanto eu me dava inteira. Isso não faz bem, e hoje sei que se amar é isso, prefiro ter um coração de pedra. Amar é muito mais do que se sentir um nada, amar é muito mais do que achar que ou é ele, ou não é ninguém, e realmente tudo que espero agora é alguém que seja o oposto de você. E é por isso que digo que posso não sentir sua falta, sentir falta de quem nos mata pouco a pouco é querer gostar de morrer. E eu gosto muito da vida. Mas eu sinto falta das coisas que terminei por sua causa. Sinto falta de comer naquela lanchonete, que nunca mais entrei. Sinto falta de passar do outro lado da calçada, que sempre passava, mas agora não passo mais porque lembro que foi ali nosso primeiro beijo. Sinto falta da liberdade de correr de moto, porque sei que agora estou livre pra onde eu quiser ir, mas não tenho você pra ir junto comigo. Sinto falta do cheiro da sua casa, do cheiro de limpa que sua casa tinha. Sinto falta do seu cachorro cheirando minha calça que estava com os rastros da minha cachorra. Sinto falta de atender o telefone da sua casa como se fosse de casa, de sentar pra jantar na mesa da sua mãe. Ah, sua mãe, como eu sinto falta da sua mãe. Como eu sinto falta das histórias que ela contava, que você era igualzinho seu pai e que tinha suado até conquistar ele. Sinto saudade de reclamar de você, e ela concordar comigo, dizendo que você não prestava mesmo. Sinto falta até do seu pai, que mesmo contido me dizia com os olhos que aprovava nós dois juntos. Falta do cachorro, gato, periquito, papagaio. Sinto falta de ouvir você falar como foi seu dia, falta de você contar uma coisa super engraçada e eu rir junto, mesmo não achando graça nenhuma, só pela graça de concordar com você. Sinto falta de escutar com prazer aquela musica que eu gostava tanto, aquele dvd que assistimos juntos, aquele refrão que parecia tanto com a nossa historia, hoje pra mim tudo isso aperta aqui dentro. Como eu sinto falta de falar de você como se você fosse parte da minha vida. Hoje tá tudo tão diferente, e não sei se isso é bom ou ruim, mas percebi que talvez não sinta saudade de você. Você não me faz falta. Tenho saudade é do seu mundo.

domingo, 3 de abril de 2011

Histeria


É, eu to mesmo irritada cara. E você ainda me olhando com essa risada no canto da boca, querendo rir por inteiro, mas com medo de me olhar, me irrita mais ainda. Fique sabendo que eu não sou assim sempre tá? Mas tem dias que eu não tô. Não tô pro mundo, não tô pra você, não tô pra conversar, não tô pra amar, não tô pra querer, simplesmente não tô. Nada contra você, eu nem te conheço. Aliás, não se sinta tão importante. Só porque eu dormi na sua casa, não quer dizer que eu te ame. Só porque eu atendo você no primeiro toque, não quer dizer que eu estou sempre te esperando. Só porque eu já coloco meus pés no painel do seu carro, só porque você me vê toda feia, de shorts sujo, blusa suja, pé sujo, alma suja, cabelo despenteado, óculos, havaiana, não quer dizer que eu quero que você me conheça de todos os modos, nem quer dizer que eu quero que você me ame de todos esses modos. Sabe, eu não amo você, não quero fazer parte da sua vida, não tô afim de fazer papel de boazinha pra sua mãe e não tô afim de ficar com você hoje. Então não me venha dizendo que “Eu sei amor, é a tpm né?”, como se fosse uma coisa medíocre. Não, não é a tpm, é você mesmo, e essa sua mania de sempre achar que sabe tudo, e sempre achar que o que você sabe é mais importante do que as coisas que eu acho que sei. E o que eu sei, é que você não é capaz de não borrar a cueca pelo menos um dia, sei também que você quase sempre tem preguiça de banho, que não levanta do sofá pra pegar um copo d'água e é um tremendo de um bobão que tem medo de rato e filme de terror. E ainda tem a cara de pau de dizer que é machão, que trabalha mais, que se cansa mais. Olha aqui, queria ver é você sangrar todo mês, queria ver sua barriga crescer como se tivesse engolido uma jaca madura, queria ver é você ter que pensar que vai numa festa sexta-feira, mas antes precisa fazer unha, cabelo, bigode, depilação, chapinha, maquiagem com um corno reclamando que estamos 10 minutos atrasados. Queria ver você correndo atrás de mim, como você faz quando eu falo que vou sumir da sua casa – e da sua vida- de salto alto, calça atolada no rego e os peitos pulando quase no seu queixo. Queria ver se um dia você ia ficar feliz tendo que arrumar a casa inteira, cuidar da comida, dos filhos, de mim e ainda do jegue que ta no sofá assistindo o jogo do “curinthá”. Queria ver você aqui, nesse corpinho, falando que ser mulher é fácil e que somos mesmo o sexo frágil. Olha, prometo que se você me der mais um risinho desse, eu explodo sua cara, chuto seu saco, e ainda falo tudo isso aqui, que até agr eu só tô pensando, enquanto mudo a estação do seu rádio e torço pra chegar na minha casa logo e falar “Não tô muito boa hoje não, melhor você ir pra casa tá, amor?”. Melhor mesmo, porque se você entrar, capaz de sair daqui reclamando de maus tratos e violência sexual. Olha, volta depois, amanhã, daqui um mês, nunca mais. Faça o que você quiser. Só me esqueça hoje, e esqueça que eu te esqueci amanhã. E volte. Volte porque amanhã é sexta e eu vou fazer barba, cabelo e bigode pra te ver, e estarei linda, e você terá orgulho de mim. Volte porque amanhã não estarei de alma suja, já terei chorado o mundo inteiro no banho, e estarei de alma lavada, coração tranqüilo, e sorriso no rosto. Volte porque amanhã eu vou me amar e aí poderei amar você também.

domingo, 27 de março de 2011

O contrário do que é certo

O que não pode, o que não presta, o que me prende. É só eu não poder dizer lá em casa, que pronto, to ferrada. É só ser o completo oposto do que papai queria, do que mamãe sonhava, que pronto.. É só ele fazer tudo errado, é só ele não ser romântico, não mandar flores, não dizer eu te amo, que aí eu to perdida. Deixa claro que não é de ninguém? Lá vou eu querer me candidatar a única. Tem fama de que come todas? Lá vou eu ficar do lado dele, e querer que ele pegue na minha mão e não na minha bunda. Não acho certo, sei que não acho certo, mas sempre amei o errado. Até porque o errado sempre me deixa com cara de que pode mais, de quem pode tudo, de quem é dona de si, de quem é dona das próprias escolhas. Só não me explicaram que posso ser dona de mim, mas nunca dona dele. Ele não tem dona, não tem cabresto, não tem parada, não tem morada. E lá vai ele, com seus mil defeitos, mil problemas, mil porres, mil tatuagens, mil histórias politicamente incorretas, mil mulheres. E eu aqui, com a maior cara lavada querendo fazer o papel de rainha do gueto, do morro, da favela, como se eu tivesse alguma coisa a ver com esse mundo ruim. Qualidades? zero. Sorrisos sinceros? zero. Não tem problema. Ele me olha como se quisesse mandar, e manda. E fala como se fosse meu dono, e é. E me segura como se tivesse raiva de mim, da minha vida de princesa, da minha doçura, do amor que ele não sente, e eu sinto por nós dois. Um ordinário, desgraçado, bandido, otário, que me prende, não me deixa ir, não me deixa ficar, não me deixa querer. Quieta, muda, calada. Só o que posso fazer é admirar meu mau caminho, fazendo papel de chapéuzinho, enquanto ele me olha como lobo mau.

("Idéias passam, idéias mudam, idéias ficam!")

sábado, 19 de março de 2011

Sabedoria




E o que mais você pode saber da vida menina, perguntou ele. E ela, com lágrimas nos olhos, respondeu: sou pequena, jovem e um tanto insegura, mas sei que a vida pode ter mais caminhos do que o numero de rugas que o senhor tem na cara, e sei que ela muda toda hora assim como os anos te mudaram, e reconheço que não sei nada da vida, mas cada dia eu acordo querendo aprender um pouco mais sobre ela, e quando consigo a conhecer completamente, ela torna a se transformar, esse é o mistério. Não se pode compreender a vida olhando-a de fora, é preciso se jogar aos sete mares, e ver qual serão as recompensas ou as punições. Creio que o senhor passou a vida toda tentando descobrir algo que descobri antes que meu primeiro cabelo branco pensasse em aparecer.

quarta-feira, 16 de março de 2011

É só um moletom



Acho que acabou. Ninguém disse nada, mas tinha alguma coisa diferente, depois de tanto tempo. Estar com raiva não era um dos meus sentimentos mais comuns, mas de repente ela veio, e tomou conta de tudo. Foi ela que não deixou eu te ligar aquele dia, foi ela que fez com que eu agisse como se eu não me importasse. E eu me importava. Apenas estava cansada de você não dar importância à importância que eu te dava. E a partir daquele dia, daquela raiva, parece que nada mais que você faça se tornará valido pra mudar a minha decisão: eu quero que acabe. E não quero que acabe porque arranjei outro mais bonito, pra mim não existe mais ninguém além de você. Eu não quero que acabe porque eu enjoei, porque você me irrita, você me tira do sério, mas você não é capaz de me enjoar. E eu seria capaz de ficar horas te olhando sem cansar jamais. Eu não queria que acabasse porque descobri mentiras, deslizes ou traições suas. Não, dessa vez você não fez nada. Dessa vez eu quis que acabasse tudo, antes que tudo acabasse comigo.  Eu quis terminar com você antes que eu terminasse acabada. Por te amar demais, preferi renunciar a esse amor antes que ele deixasse de ser amor e se tornasse raiva, ódio, mágoa, tristeza. Não quero que com isso você pense que daqui pra frente esquecerei tudo o que aconteceu, há certas coisas que nunca vão ser apagadas. Assim como existem coisas que precisam ser deixadas no meio do caminho, não por serem esquecidas, mas por não terem forças mais de continuar. Assim como o moletom que vai ficar na sua casa, não porque eu quero que fique lá, mas porque simplesmente não faz diferença perder ou não um moletom depois de tanto amor desperdiçando. Deixarei você no meio do caminho, não estou te avisando que estou continuando, mas simplesmente vou embora. Coloquei um rumo novo e várias promessas pra guardar: não olhar pra trás, não fraquejar, ser forte, não se deixar abalar, resistir quando te ver. Talvez com isso eu consiga agora caminhar. Estou te deixando pelo caminho, é verdade. Mas saiba que nunca esquecerei que um pouco de mim eu esqueci ai com você, e não faço questão de levar embora, saiba que ainda saberei mais pra frente de cor sua velha rotina, seus velhos gostos, seus velhos medos. Quem sabe você até já os tenha superado, mas eu ainda ficarei te imaginando com eles. Mas também não pense que te imaginarei intacto, seria bom se assim fosse, sei que você terá uma vida nova, que um novo alguém entrará no seu quarto e se sentirá dona do seu mundo, do seu sono, do seu beijo, de você. Lembre-a por mim que ela nunca será dona completamente de tudo, haverá vestígios meus. Por dentro talvez, por fora com certeza. O velho retrato, meus presentes, minhas bugigangas que já tinham espaço definido no seu quarto, o moletom. Será que você se lembrará que esqueci meu moletom aí? Será que nos dias de frio outras usarão? Você vai ter coragem de emprestar o que é meu para outro alguém? Você teria coragem de se emprestar? Que bobagem, fui eu que deixei tudo pra trás, o moletom, a vida juntos, o amor e o homem. Pra que se importar agora?  Quem sabe um dia eu ainda caiba neles de volta..

terça-feira, 15 de março de 2011

Começo

Escrever. Vem idéia, vem idéia, idéia não vem. Copio idéia? crio idéia? Idéia cadê? Idéia quando quero, não vem. Quando preciso, se esconde. Quando não quero, aparece, sem caneta, sem papel, sem memória pra relembrar. Idéia é uma incoveniente, aparece só quando não é chamada. Desaparece num piscar. Tem vontade, vida, coração e mente própria. Como se Idéia não pertencesse a mim, como se eu não tivesse idéia nenhuma. Como se copiasse idéia do outro. Mas Idéia é minha, é minha e ninguém tira, é minha e ninguém muda. Idéia da minha idéia..