domingo, 21 de agosto de 2011

Não querer depois que eu não queria

Me deu o fora. Na verdade, quando percebeu que eu tava saindo do jogo, resolveu dar o xeque-mate. Mostrou as cartas na manga, as asinhas na asa, as máscaras na cara. Revelou-se. Me fiz inteira de sinceridades, e de todo o coração pedi desculpas e disse que não queria mais. Ele, com total ignorância e imbecilidade disse que eu era uma neurótica por relacionamentos, compulsiva por amores e que não, quem não queria mais nada comigo era ele. Aliás, nunca quis. Tudo bem, morri de raiva dele por cinco segundos, logo depois ri do seu papel infantil por mais trinta segundos, e depois esqueci, pelo resto do dia. Durmi, acordei, dei bom dia pro espelho, xinguei o sofá porque bati meu dedinho, dei comida pra minha cachorra, ri das piadas do meu melhor amigo, não lembrei nem um segundo dele. Ele quem mesmo? Ah é, ele. Ele, que estava a essas alturas procurando um jeito de me causar ciúmes, primeiro me por me ignorar, depois por me provocar, por último, por achar que consegue me rejeitar. E eu rindo. Rindo porque se eu não risse, acabaria por ligar, e falar "Olha aqui seu ridículo, você acha realmente que eu to chorando por você? Você acha que realmente era verdade quando eu te disse que não imaginava mais minha vida sem você? Você acha que chamando minhas amigas de linda você consegue me tirar do sério? Vai a merda, bobinho!". Praticamente um menino, que não sabe o que é irritar uma mulher. Sabe, beija uma velha capenga na minha frente, passa na rua e atravessa de calçada, fala mal do meu cabelo, começa a namorar outra. Mas não vem com esse papo juvenil de falar de mim por entrelinhas, e tentar me afetar com seu veneno. Isso é melhor que cocegas pra mim, me causam sérios ataques de risos, me rejuvenesce mais que creme francês. Você não passa de um gosto azedo que fica na boca depois que se chupa limão. Entende? Não é ruim, não me causa náuseas, não atrapalha meu dia, só é azedo, por pensar que não teve o gosto que eu achei que teria, aquele gosto doce que eu imaginei. Não passa de alguma coisa bem nojenta, que eu dei descarga e jurei pra mim nunca mais fazer a mesma cagada. Mas quer saber? Nada disso tirou meu sorriso do rosto, porque no final das contas, a melhor coisa que você fez por mim foi não me querer (ou não me querer depois que eu já não te queria). Me vieram tantos outros gostos, melhores que os seus. Tantas outras vontades, mais deliciosas que as suas. Tantos outros homens, que não se faziam de moleque, como você. Mas pode ficar aí. Você, e sua enrustida mágoa pelo meu pé na bunda. Você, e sua engraçada mania de tentar me afetar. Você, e você. No final das contas, sozinho. E eu, no final das contas, feliz. Feliz por saber que seu esforço contínuo de me atingir acaba atingindo a você mesmo. Feliz, por saber que não é qualquer um que azeda minha doçura. E se tem uma coisa que eu aprendi é que homem, fome e vontade de ir no banheiro incomoda, mas não mata. E me desculpe o trocadilho, mas eu é que não vou morrer por qualquer merdinha, não. Mas não mesmo.