domingo, 27 de março de 2011

O contrário do que é certo

O que não pode, o que não presta, o que me prende. É só eu não poder dizer lá em casa, que pronto, to ferrada. É só ser o completo oposto do que papai queria, do que mamãe sonhava, que pronto.. É só ele fazer tudo errado, é só ele não ser romântico, não mandar flores, não dizer eu te amo, que aí eu to perdida. Deixa claro que não é de ninguém? Lá vou eu querer me candidatar a única. Tem fama de que come todas? Lá vou eu ficar do lado dele, e querer que ele pegue na minha mão e não na minha bunda. Não acho certo, sei que não acho certo, mas sempre amei o errado. Até porque o errado sempre me deixa com cara de que pode mais, de quem pode tudo, de quem é dona de si, de quem é dona das próprias escolhas. Só não me explicaram que posso ser dona de mim, mas nunca dona dele. Ele não tem dona, não tem cabresto, não tem parada, não tem morada. E lá vai ele, com seus mil defeitos, mil problemas, mil porres, mil tatuagens, mil histórias politicamente incorretas, mil mulheres. E eu aqui, com a maior cara lavada querendo fazer o papel de rainha do gueto, do morro, da favela, como se eu tivesse alguma coisa a ver com esse mundo ruim. Qualidades? zero. Sorrisos sinceros? zero. Não tem problema. Ele me olha como se quisesse mandar, e manda. E fala como se fosse meu dono, e é. E me segura como se tivesse raiva de mim, da minha vida de princesa, da minha doçura, do amor que ele não sente, e eu sinto por nós dois. Um ordinário, desgraçado, bandido, otário, que me prende, não me deixa ir, não me deixa ficar, não me deixa querer. Quieta, muda, calada. Só o que posso fazer é admirar meu mau caminho, fazendo papel de chapéuzinho, enquanto ele me olha como lobo mau.

("Idéias passam, idéias mudam, idéias ficam!")

sábado, 19 de março de 2011

Sabedoria




E o que mais você pode saber da vida menina, perguntou ele. E ela, com lágrimas nos olhos, respondeu: sou pequena, jovem e um tanto insegura, mas sei que a vida pode ter mais caminhos do que o numero de rugas que o senhor tem na cara, e sei que ela muda toda hora assim como os anos te mudaram, e reconheço que não sei nada da vida, mas cada dia eu acordo querendo aprender um pouco mais sobre ela, e quando consigo a conhecer completamente, ela torna a se transformar, esse é o mistério. Não se pode compreender a vida olhando-a de fora, é preciso se jogar aos sete mares, e ver qual serão as recompensas ou as punições. Creio que o senhor passou a vida toda tentando descobrir algo que descobri antes que meu primeiro cabelo branco pensasse em aparecer.

quarta-feira, 16 de março de 2011

É só um moletom



Acho que acabou. Ninguém disse nada, mas tinha alguma coisa diferente, depois de tanto tempo. Estar com raiva não era um dos meus sentimentos mais comuns, mas de repente ela veio, e tomou conta de tudo. Foi ela que não deixou eu te ligar aquele dia, foi ela que fez com que eu agisse como se eu não me importasse. E eu me importava. Apenas estava cansada de você não dar importância à importância que eu te dava. E a partir daquele dia, daquela raiva, parece que nada mais que você faça se tornará valido pra mudar a minha decisão: eu quero que acabe. E não quero que acabe porque arranjei outro mais bonito, pra mim não existe mais ninguém além de você. Eu não quero que acabe porque eu enjoei, porque você me irrita, você me tira do sério, mas você não é capaz de me enjoar. E eu seria capaz de ficar horas te olhando sem cansar jamais. Eu não queria que acabasse porque descobri mentiras, deslizes ou traições suas. Não, dessa vez você não fez nada. Dessa vez eu quis que acabasse tudo, antes que tudo acabasse comigo.  Eu quis terminar com você antes que eu terminasse acabada. Por te amar demais, preferi renunciar a esse amor antes que ele deixasse de ser amor e se tornasse raiva, ódio, mágoa, tristeza. Não quero que com isso você pense que daqui pra frente esquecerei tudo o que aconteceu, há certas coisas que nunca vão ser apagadas. Assim como existem coisas que precisam ser deixadas no meio do caminho, não por serem esquecidas, mas por não terem forças mais de continuar. Assim como o moletom que vai ficar na sua casa, não porque eu quero que fique lá, mas porque simplesmente não faz diferença perder ou não um moletom depois de tanto amor desperdiçando. Deixarei você no meio do caminho, não estou te avisando que estou continuando, mas simplesmente vou embora. Coloquei um rumo novo e várias promessas pra guardar: não olhar pra trás, não fraquejar, ser forte, não se deixar abalar, resistir quando te ver. Talvez com isso eu consiga agora caminhar. Estou te deixando pelo caminho, é verdade. Mas saiba que nunca esquecerei que um pouco de mim eu esqueci ai com você, e não faço questão de levar embora, saiba que ainda saberei mais pra frente de cor sua velha rotina, seus velhos gostos, seus velhos medos. Quem sabe você até já os tenha superado, mas eu ainda ficarei te imaginando com eles. Mas também não pense que te imaginarei intacto, seria bom se assim fosse, sei que você terá uma vida nova, que um novo alguém entrará no seu quarto e se sentirá dona do seu mundo, do seu sono, do seu beijo, de você. Lembre-a por mim que ela nunca será dona completamente de tudo, haverá vestígios meus. Por dentro talvez, por fora com certeza. O velho retrato, meus presentes, minhas bugigangas que já tinham espaço definido no seu quarto, o moletom. Será que você se lembrará que esqueci meu moletom aí? Será que nos dias de frio outras usarão? Você vai ter coragem de emprestar o que é meu para outro alguém? Você teria coragem de se emprestar? Que bobagem, fui eu que deixei tudo pra trás, o moletom, a vida juntos, o amor e o homem. Pra que se importar agora?  Quem sabe um dia eu ainda caiba neles de volta..

terça-feira, 15 de março de 2011

Começo

Escrever. Vem idéia, vem idéia, idéia não vem. Copio idéia? crio idéia? Idéia cadê? Idéia quando quero, não vem. Quando preciso, se esconde. Quando não quero, aparece, sem caneta, sem papel, sem memória pra relembrar. Idéia é uma incoveniente, aparece só quando não é chamada. Desaparece num piscar. Tem vontade, vida, coração e mente própria. Como se Idéia não pertencesse a mim, como se eu não tivesse idéia nenhuma. Como se copiasse idéia do outro. Mas Idéia é minha, é minha e ninguém tira, é minha e ninguém muda. Idéia da minha idéia..