sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Teoria dos seis meses

Sei que não adianta mais falar de coisa velha. Sei também que só se torna velho aquilo que ninguém faz questão de renovar. Não te culpo mais. Também não faço mais questão. Também errei naquele tempo em querer demais. Também errei ao tentar te fazer enxergar que nós valíamos o esforço. Quem sabe se eu não tivesse dado importância, quem sabe se eu fosse mistério. Mas eu fui o que sempre sou. E não deu certo. Tudo bem, já não choro mais. Mas foi numa daquelas conversas que você pega no meio. Daquelas que você não tinha que ter escutado, e nem queria, mas foi invadido com um pensamento que te marcou. Ela com voz de compreensiva e olhar de saco cheio, esperou a outra pessoa terminar a ladainha do outro lado da linha e disse “Eu entendo amiga. É a famosa teoria dos seis meses: durante seis meses tem dia que dói, em outros você esquece! É assim mesmo..” Parei. Olhei pra cara da moça. Ela me olhou com cara de pare de ouvir minha conversa. Desviei o olhar. Comecei a contar nos dedos se fazia mais ou menos que seis meses. Sete. Com a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos que sempre escuto em campanhas políticas, me inclui na teoria. Tinha achado a explicação pra essas crises repentinas que às vezes chamava de angústia, às vezes de TPM, às vezes de não to afim de conversar, às vezes de não é nada só estou cansada. E eu realmente estava cansada, mas era dessa mania chata de às vezes você me doer. Não era sempre, era quase nunca, mas ainda era. Sei que tinha dias que seu nome não me irritava, falava do nosso passado com aquela alegria de quem viveu um tempo bom, com um sorriso de quem assume que apesar de tudo foi feliz, como se não tivessem ficado mágoas. Tinha horas que minha gargalhada saia alta, eu realmente me sentia superada, até fazia piadas como quem se divertia com os próprios enganos da vida, e realmente pensava porque diabos um dia eu achei que só poderia ser completa se te pertencesse. Eu me pertencia, e me completava. E quando achava que era muito triste viver sozinha, me deixava conscientemente cair na lábia de qualquer candidato a garanhão por ai e aceitava um novo quase-amor. Tinha semanas que parecia que você era completamente nada, que eu dava tudo para a quase-paixão. Me esforçava e tentava fazer com que fosse durar. Sempre me esquecia que se esforçar demais nunca dava certo. Voltava pra minha auto-suficiência. Vivia um tempo tranqüila, depois você me doía. Me doía quando de repente percebia que o meses realmente te levaram pra um lugar chamado memória. Só lá eu te encontrava. Só por ela nós nos falávamos. Nela você ainda ria pra mim. Aqui, agora, hoje, nesses dias que parecem que tudo é chato. Nessas horas em que eu penso desesperadamente em te ligar, mas não ligo. Nessas horas que desesperadamente em penso em chorar, mas não choro. Nessas horas que desesperadamente queria um abraço, mas não peço, e continuo com a desculpa de que essa cara de quem perdeu o amor da sua vida mas não pode, não quer, e nem sabe fazer nada a respeito é só cara de cansada mesmo. E aí tenho certeza de que você ainda me fere. E nem sei se é bom ou ruim você doer só de vez em quando, porque parece que quanto mais tempo você passa sem dar o ar da graça em minha mente, mas é a intensidade da falta que eu reconheço que você faz quando você surge. Bem nesses momentos que não se pode surgir. No meio da aula de filosofia, onde não posso perguntar por que a gente ama errado pro professor já que ele está discutindo lógica. E que lógica tem o amor, não é mesmo? No supermercado, onde não posso perguntar pro moço ao lado porque ele tem um cheiro tão parecido com o seu. Porque não se vende amores limpinhos no supermercado, não é mesmo? Na rua, onde não posso perguntar pra moça que fala ao telefone como é essa teoria. E será que depois dos seis meses passa? Deve passar, não é mesmo? Quem sabe amanhã, quem sabe depois. Deixo a dor doer o quanto tiver que ser doída, agora sei que ela vem, incomoda, depois vai embora. Não me desespero mais, vou seguindo a teoria. Um dia sem amor pra se viver, em outro morrendo por tudo que acabou. Assim eu vou. Está tudo sob controle, eu me garanto, não se preocupe, um dia tudo isso passa.