Percebi hoje que aconteceu de novo. Tô começando achar que tá virando mania sair pela rua olhando pra todos os lados, pensando, analisando, me perguntando "será que é você? será que vai ser você meu novo amor?". Olhei pra um desconhecido hoje, pensei que dessa vez podia ser. Não foi. Mas podia ser ele, não podia? Ou o que estava na sala de espera do dentista comigo, o que me atendeu no telefone quando eu liguei na gráfica, o que tá no terceiro ano da faculdade, aquele que eu encontro no corredor, o que subiu comigo no elevador, o amigo do meu irmão, o amigo do amigo daquele amigo, o padeiro, o pedreiro, quem será? Quem é que vai entrar por aquela porta e alegrar tudo de novo? Eu achava que não gostava do gostar. Gostar faz sofrer, gostar faz ter medo, gostar faz pedir pra ficar, faz ver ir embora, faz querer morrer. Mas gostar é viver. E não gostar, não gostar é o celular não tocar, é o coração não sair pela boca, não ter pra quem ligar no fim do dia pra perguntar se tá tudo bem, o que fez hoje, se tá cansado. Não gostar é não ter de quem ter ciúmes, não ter um abraço quente, uma cama quente, um sorriso quente, uma briga fria. Não gostar é não ter ninguém. Ninguém pra pedir desculpa, ninguém pra bater o pé e dizer que tá certa, ninguém pra chamar de seu, ninguém pra mostrar pro mundo, ninguém pra ser seu mundo. Não gostar é ficar com o vazio, com o nulo, com o nada. Não gostar acaba nessa mania estranha de querer preencher o tempo todo um espaço que doía, mas fazia viver. Eu achava que não gostava do gostar. Mas prefiro gostar, prefiro ver o ciclo de chegar, fazer feliz, ir embora, fazer triste, do que esse espaço que descobri que só se preenche com a presença da ausência, com o grito do silêncio, com o sofrimento de não sofrer, por nada, nem ninguém. Quis tanto não amar, quis tanto ser mulher-independente-segura-de-si-antes-só-do-que-mau-acompanhada e acabei nessa menina romântica com o jeito bobo de achar que vai virar a esquina e de novo encontrar um amor. Paguei a língua. Apaguei os erros. Penei pra esquecer. Me fiz vazia. E agora quero tudo de volta. Mas aonde ele se esconde? O que ele faz da vida? Como ele é? Vou precisar ser fingida e aparentar não estar procurando nada pra ele aparecer? Ou ele quer mesmo que eu o cace? Amor, cupido, deuses, anjos, pai-de-santo, farmacêutico, terapeuta, seja lá você quem for, me dá uma dica, uma pista, uma chance. Eu quero encontrar, não tá vendo? Eu tô aqui, aberta, inteira, reconstruída. E nada. Agora que acho que consigo amar direito, agora que espero me livrar desses filmes de terror que não dão espaço pra comédias românticas, e dessas dúvidas que não dão espaço pra certezas, e dessa montanha-russa que não me deixar viver a calma da roda-gigante. Agora que tô pronta, cadê essa porra de amor? Que não vem, que não me acha, que não quer sequestrar a minha vida quando eu tô pagando pra entrar no cativeiro. Sei que falar tudo isso dá a impressão de ser uma louca-carente-neurótica-encalhada, mas quem é que nunca sussurrou baixinho "Deus, me dá um amor?". Disse isso outro dia pra alguém, me vieram com o clichê típico de que enquanto você estiver procurando não vai achar ninguém mesmo. É esse o saco da vida, você aprende o ditado desde criança que quem procura, acha. Aí vem o amor e muda tudo. Faz você mudar. Faz você passar de não-curto-namorar pra quero-dormir-abraçadinho. Esse tal de amor é louco. Eu, talvez, mais ainda, na maior das sanidades, assumindo que quero entrar de cabeça nessa loucura. E agora, pra terminar o drama, eu imploro: alguém, pelo amor de Deus, me resgata dessa realidade e me faz viver no sonho? Alguém, qualquer alguém, que não seja qualquer um, que não seja tanto faz, que não seja já-que-não-tem-tu-vai-tu-mesmo. Mas que seja alguém. Que seja um só-quero-você. Que seja o meu bem. Que seja o meu mau. Apareça. Outra vez. E chegue, e invada, e faça renascer a certeza de que gostar é bom, de que gostar faz bem. Alguém, pra não desperdiçar, enfim, mais uma das chances que o amor nos dá e sem querer-querendo, perdemos. E depois choramos.
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