quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O homem da menina


Não era menino, não. Tô cansada desses meninos que não sabem compor nem uma oração subordinada mas nos subordinam às canalhices que eles espalham por aí. Moleques, que ainda precisam da mãe pra apontar o caminho, mas se acham no direito de querer pontuar nossa vida. É preciso saber ser homem sem querer ser. Ser porque se é, porque já se tornou e não porque está descobrindo o seu vigor másculo, e o que fazer com ele, e o que fazer com nós. Homem, daqueles que não te chamam de oi gata, mas você se sente a felina mais poderosa que existe. Homem, daquele que sabe usar as palavras e não se esconde atrás do silêncio, ou até mesmo, da ignorância. Homem, com cheiro de homem, cara de homem, jeito de homem. Olhos, daqueles que escondem mistérios, mas, descaradamente te mostram vontades. Olhos que te despem do juízo, desses que te fazem roxa só de tentar imaginar os pensamentos que existem por trás desse olhar. Mãos, que sabem aonde vão. E sabem parar quando chega o limite, e sabem continuar quando eu digo que pare, mas penso que continue. Versos: soltos, tranqüilos, sem ensaio, sem a intenção de meias verdades nem inteiras mentiras. Versos que encantam por encantar, não por iludir. Chega a causar medo, a achar tudo aquilo um perigo. E por qual motivo não fugir desse alerta vermelho? Hipnose, feitiço, sensação boa de adrenalina, de proibição? Pode ser. Talvez saber que pode até ser perigoso, mas o desejo aqui fala, berra, grita mais alto. O desejo de querer ficar, querer tentar, querer se jogar. Do penhasco, nos seus braços, sem os traços da pureza, sem a demora do amor. Simples porque querer é simples, e posso te querer sem querer saber da sua vida, sem querer seguir seus passos, sem querer pra casar. Sem querer pra ligar no meio da noite pra escutar a voz, mas ligar no meio do dia pra se aventurar. Aventurar no desejo, no beijo, no eixo que se encaixa como quem já se conhecia. Deixar. Deixar a mão que vá, ou que venha. Se deixar sentir, porque tudo será válido. Mas que não sinta amor, pra não ficar do jeito chato que sempre é. Gostava mesmo é da persuasão, do doce controle de querer se entregar, mas não ir, não agora, não ainda. Da certeza que acontecerá. E acontecerá sem joguinhos, sem se precisar dizer “deixa eu passar a noite com você porque te quero pra sempre”, porque eu sei que ele me quer, e eu o quero pelo querer, não pelo sempre. E não há falsas ilusões. Eu quero porque ele sabe ser homem. E ele me quer pra me tornar mulher. Pra deixar com que essa inocência de continuar menina desapareça. Pra me fazer entender que certas pessoas se unem por desejo, e não pelo sonho de serem felizes juntas. O junto é agora. Amanhã talvez, sem promessas, sem culpas, sem mágoas. Sei que é assim porque homens são assim. E quando se conhece um homem, nunca mais se contenta com qualquer menino. E o desejo é sempre mais, é sempre ainda, é sempre quem sabe, é sempre quando der, é sempre não vejo a hora. Não vejo a hora de ser conscientemente coagida em qualquer hora do dia. Não vejo a hora de ser obrigada a não dizer não. Não vejo a hora de valer. Valer a pena e o que mais tiver que valer e acontecer. E que faça valer, pra eu poder ter orgulho da loucura que é o desejo.

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