sábado, 24 de dezembro de 2011

Amizade que não atrasa


Tô saindo porque hoje vamos reunir as meninas. Isso é um perigo, e uma raridade. Vai ter amigo secreto pra comemorar nossa amizade, o natal, e mais um ano juntas. Vai ter risadas, patadas em uma, farpas em outra, vai ter abraços, e se eu bem conheço, vai ter uma bela briga. Resolvi pensar num texto pra elas. Tô atrasada. Acho que não vai dar tempo. Mas o texto veio pronto, agora. Fazer o que? Agora vai. Minhas amigas sempre reclamam que não faço textos pra elas. Poderia fazer, afinal são tantos anos, e tantas falhas, e tantas histórias que dariam vários textos, que daria um bom livro. Mas eu sempre escrevi pelas minhas aflições, e pelas coisas que eu queria ter e não tinha, e pelos erros que a vida me trazia. Mas minhas amigas sempre foram meu maior acerto. E nem sempre as pessoas tem amigas. Tem gente que passa uma vida inteira chorando sozinha porque perdeu o namorado, rindo sozinhas das próprias piadas, contando pro travesseiro os segredos mais horríveis. Mas eu tenho amigas. Por mais que as vezes eu desejasse ter um tipo ideal de amigas e mandar todas elas sumirem. Elas são o meu tipo, e me caem muito bem. A pessoa que eu tirei de amigo secreto é mulher, forte, guerreira, tem algumas cicatrizes no coração, tem um sorriso de rainha, um abraço do tamanho do mundo, tem problemas de família, se olha no espelho e não se acha muito bonita, em outros dias ela se acha incrível. Tem dias que ela chora, tem dias que ela morre de ri, tem dias que não suporto olhar na cara dela, em outros não desgrudo do seu colo, e sempre, sempre ela vai estar presente na minha vida. A pessoa que eu tirei no amigo secreto foi quem eu escolhi pra ser minha irmã mais velha, quem me conhece desde pequena, quem se tornou minha parceira, quem é quase minha vizinha, quem compartilha o meu nome, quem tem a melanina que eu tanto amo. E não importa quem eu tenha tirado. O importante mesmo foi a vida ter colocado uma por uma no meu caminho. Dizem por aí que quem escreve é quem não tem nada pra fazer. Eu escrevo. Tenho que fazer mil coisas antes das sete, e são vinte pras sete. Mas elas vão entender o meu atraso. O atraso da hora, o atraso do texto. Porque como dizem por aí, você só ama uma pessoa se consegue amar os defeitos que ela tem. E eu amo o defeito de todas essas pequenas mulheres cheias de erros, mas que acertam um único ponto: na nossa amizade. E não importa que uma é grossa, a outra some, a outra se irrita fácil, a outra irrita os outros, a outra é manhenta demais, mimada demais, esquisita demais. Não importa. Porque isso é gostar: não suportar de toda forma um gesto, uma palavra, uma mania, alguma coisa em alguém, mas não imaginar de forma alguma sua vida sem isso. Sei que o tempo vai passar, e que agora isso tudo parece melação de quem não tem nada pra fazer e sabe usar uma palavra bonita aqui ou ali, mas daqui 20 ou 30 anos só vão sobrar saudades, então, de vez em quando é bom dizer que sem elas eu não conseguiria continuar. É bom dizer que eu não as escolhi, mas eu agradeço muito pela vida ter escolhido. Realmente, ela sempre sabe o que fazer. Espero que ela nos faça mudar, crescer, continuar, mas sempre, lado a lado. E antes que eu seja apedrejada, pára de buzinar, já tô quase pronta, só mais 5 minutinhos.

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