domingo, 3 de abril de 2011

Histeria


É, eu to mesmo irritada cara. E você ainda me olhando com essa risada no canto da boca, querendo rir por inteiro, mas com medo de me olhar, me irrita mais ainda. Fique sabendo que eu não sou assim sempre tá? Mas tem dias que eu não tô. Não tô pro mundo, não tô pra você, não tô pra conversar, não tô pra amar, não tô pra querer, simplesmente não tô. Nada contra você, eu nem te conheço. Aliás, não se sinta tão importante. Só porque eu dormi na sua casa, não quer dizer que eu te ame. Só porque eu atendo você no primeiro toque, não quer dizer que eu estou sempre te esperando. Só porque eu já coloco meus pés no painel do seu carro, só porque você me vê toda feia, de shorts sujo, blusa suja, pé sujo, alma suja, cabelo despenteado, óculos, havaiana, não quer dizer que eu quero que você me conheça de todos os modos, nem quer dizer que eu quero que você me ame de todos esses modos. Sabe, eu não amo você, não quero fazer parte da sua vida, não tô afim de fazer papel de boazinha pra sua mãe e não tô afim de ficar com você hoje. Então não me venha dizendo que “Eu sei amor, é a tpm né?”, como se fosse uma coisa medíocre. Não, não é a tpm, é você mesmo, e essa sua mania de sempre achar que sabe tudo, e sempre achar que o que você sabe é mais importante do que as coisas que eu acho que sei. E o que eu sei, é que você não é capaz de não borrar a cueca pelo menos um dia, sei também que você quase sempre tem preguiça de banho, que não levanta do sofá pra pegar um copo d'água e é um tremendo de um bobão que tem medo de rato e filme de terror. E ainda tem a cara de pau de dizer que é machão, que trabalha mais, que se cansa mais. Olha aqui, queria ver é você sangrar todo mês, queria ver sua barriga crescer como se tivesse engolido uma jaca madura, queria ver é você ter que pensar que vai numa festa sexta-feira, mas antes precisa fazer unha, cabelo, bigode, depilação, chapinha, maquiagem com um corno reclamando que estamos 10 minutos atrasados. Queria ver você correndo atrás de mim, como você faz quando eu falo que vou sumir da sua casa – e da sua vida- de salto alto, calça atolada no rego e os peitos pulando quase no seu queixo. Queria ver se um dia você ia ficar feliz tendo que arrumar a casa inteira, cuidar da comida, dos filhos, de mim e ainda do jegue que ta no sofá assistindo o jogo do “curinthá”. Queria ver você aqui, nesse corpinho, falando que ser mulher é fácil e que somos mesmo o sexo frágil. Olha, prometo que se você me der mais um risinho desse, eu explodo sua cara, chuto seu saco, e ainda falo tudo isso aqui, que até agr eu só tô pensando, enquanto mudo a estação do seu rádio e torço pra chegar na minha casa logo e falar “Não tô muito boa hoje não, melhor você ir pra casa tá, amor?”. Melhor mesmo, porque se você entrar, capaz de sair daqui reclamando de maus tratos e violência sexual. Olha, volta depois, amanhã, daqui um mês, nunca mais. Faça o que você quiser. Só me esqueça hoje, e esqueça que eu te esqueci amanhã. E volte. Volte porque amanhã é sexta e eu vou fazer barba, cabelo e bigode pra te ver, e estarei linda, e você terá orgulho de mim. Volte porque amanhã não estarei de alma suja, já terei chorado o mundo inteiro no banho, e estarei de alma lavada, coração tranqüilo, e sorriso no rosto. Volte porque amanhã eu vou me amar e aí poderei amar você também.

2 comentários:

  1. "e ainda do jegue que ta no sofá assistindo o jogo do “curinthá”..." PRECONCEITO NE, MARILIA.

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