segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Fingir que é normal deixar o amor passar


Fazia mais ou menos uns dois meses que a gente não se via. Quando o tempo passa assim, rápido, mas arrastando uma saudadezinha, sempre me dava conta de que podia ser que nós estivéssemos nos perdendo. Começava a incomodar, tinha vontade de te ligar no meio da noite, mas não, tinha medo de atrapalhar seu relacionamento de fachada, tinha medo mesmo sabendo que era fachada, tinha medo que um dia deixasse de ser fachada e passasse a ser amor, e deixasse de ser amor comigo, entende? E vai que nesses dois meses  alguma coisa tenha mudado. As coisas podem mudar, não podem? Achava melhor ficar na minha. Na minha vida de viver bem, mas sempre faltar você. Na minha alegria nas baladas, mas sempre engolindo mais forte, mais rápido, mais ‘beba pra esquecer’ quando nossa música começava a tocar. Na minha vida de não precisar de você pra existir, mas querer muito existir ao seu lado, ainda. É, ainda. Por mais que o tempo tenha passado. Você mudou de emprego, comprou um carro, foi fazer inglês, desistiu do inglês, mudou o corte de cabelo, parou de ser visto nas baladas, fez fama de bem-casado. E ainda estamos aqui. Passei na faculdade, tava morena, fiquei loira, fiquei morena de novo, conheci gente nova, tive outros amores, comecei a ser vista ainda mais nas baladas, fiz fama de ‘já te esqueci’. E ainda estamos aqui. Aqui de vez em quando. Aqui quando a coragem de assumir que sim, sentimos falta um do outro aparecia. Aqui quando a gente largava essa mania estranha de ligar pro mundo lá fora, fingindo que não via, não sentia, não temia o que se passava aqui dentro e dava chance pro que realmente doía vir à tona. Hoje eu te vi. Tossi alto pra você não escutar o barulho do meu coração descompassado. Fiz um esforço enorme pra você não perceber minhas pernas amolecendo. Fiquei me perguntando se era um daqueles dias que você vinha dar um oizinho com uma desculpa qualquer só pra disfarçar a saudade, ou se era um daqueles dias que você vinha pra realmente matar essa saudade. É, porque de um jeito ou de outro a gente morria de saudade, e de um jeito ou de outro a gente entendia que era visível que gente se precisava. E quando a coragem não era tanta pra assumir, a gente se procurava pra um oi, tudo bem, quanto tempo. E depois? Depois voltava pra essa vida de fingir que é normal deixa o amor passar. Mas hoje não era um desses dias, hoje percebi pelo seu abraço de oi, que depois do oi vinha o beijo, e depois do beijo vinham as verdades. Aquelas verdades que eu passava dois meses sem escutar, e de repente você dizia. Que eu era a mulher da sua vida, que a gente sempre foi feliz, que não foi um erro, que essa dificuldade toda é só mais uma prova do quanto nosso amor é forte, de que sim, a gente com certeza ia ficar junto um dia. De que não, eu não podia desistir da gente, que eu precisava ter força, eu precisava acreditar no que você dizia sentir. Porque um dia ia dar tudo certo. E em duas horas dois meses de angústia desapareciam. E eu de novo voltava a ter certeza de que ainda estamos aqui, um pro outro, lado a lado, mesmo que tão distantes. Voltava a ter certeza de que nada que acontecesse ia mudar o nosso final feliz, porque eu, boba ou não, ainda acreditava que a gente poderia ter um. Voltava pra minha vida carregada de esperanças. Era isso, você carregava minhas baterias, entende? As coisas podiam não estar exatamente como nós desejávamos, mas a gente se carregava por horas e tinha força pra aguentar os meses que provavelmente iam se arrastar até a próxima vez, a próxima carga. E assim a vida continuava, ela não podia parar, eu sabia disso. Não dava mais pra ficar chorando em pensar que você só vinha de vez em quando, eu tinha que seguir, eu tinha que deixar a saudade pra lá e fingir que nada estava acontecendo. Você fingia sempre, eu também conseguiria fingir. Na verdade era fácil, distraia a vida com o dia-a-dia, e espera o destino te colocar na minha frente. Mais uma vez.

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