quinta-feira, 7 de julho de 2011

Você não acredita

 Estranho mesmo é desejar voltar pra uma vida que você quis tanto sair. Estranho mesmo é achar que é lá que mora a felicidade. Lá, exatamente ali. Em um tempo que não volta mais. Estranho é ter que tratar com educação, com uma cordialidade nojenta quem você tratou como seu, quem você achou que pudesse possuir. Horrível é ter que ver ele passar e alguma coisa prender seu pé no chão dizendo que não, simplesmente você não pode pular na frente do carro e dizer "Por favor, olha no meu olho outra vez! Nem que seja só dessa vez". Não, você não pode sair gritando "Por que você não me quer mais? O que eu fiz pra merecer isso?!". Não, você não pode fazer isso. E também não pode querer obrigar que ele engula sua presença. Se ele te evita, tem motivos pra isso. E evita sabendo que está evitando, então não há necessidade de passar na frente dele pra ele te perceber ali mas fazer a completa questão de virar a cara pra você. É como se você se vestisse com uma roupa de palhaço, pisca-alertas, luzes e sinalizadores pra ganhar um olhar em sua direção. Mas de que adianta? Ele vai rir do seu papel de tonta, vai balançar a cabeça como quem diz que tudo aquilo é um absurdo. Que você é um absurdo. Que esse amor é um absurdo. Não dá. Não tem jeito de reatar o que não tem volta. Talvez não tenha jeito de consertar uma mentira. Quem sabe se fosse verdade. Quem sabe se tivesse sido verdade todas as palavras ditas, quem sabe se todos os sorrisos tivessem sido sinceros, quem sabe se aquele te amo tivesse sido verdadeiro. Quem sabe.. Mas não foi. E não se conserta o que nunca existiu. Não se pode implorar abrigo pra uma pessoa que te joga no meio do tiroteio. É impossível pedir por favor pra quem tem um coração gelado, pra quem só nota o próprio umbigo. Ele não vai sentir, ele não vai ligar. Ele não estará se importando quando você estiver sozinha, rezando pra que pelo amor de Deus, não faça com que ele suma da minha vida, Amém. Ele não sentirá saudade. Ele não virá mais em nenhuma noite. Ele simplesmente não estará lá quando seu peito estiver apertado. Ele não vai querer te curar. E você rastejará por notícias. Recorrerá à cartomantes e à informantes pra saber como ele tem passado, por onde ele tem andado, se ele ainda está brincando de ser feliz enquanto destrói sua felicidade. Você tentará descobrir cada atitude que ele tomará, cada passo, cada movimento. Mesmo sabendo que isso doerá demais. Porque em qualquer direção que ele for, cada vez mais longe ele estará de você. E não adianta tentar ligar pra ele no meio da noite, não adianta tentar convencê-lo que o amor está aqui, que a felicidade dele está aqui, que ele não encontrará em mais ninguém o que só acha em você. Não adianta. Ele não acredita. Ele não acredita que exista uma coisa chamada destino, acaso, karma, sina, elo, laço. Ele não acredita no amor. Ele não acredita em você. Ele realmente acha que o que passou, passou. Então eu, tentando seguir a mesma linha estúpida de raciocínio, tentando entrar naquela mente tão amarga, fria, insensível, comecei a pensar que sim, talvez ele esteja certo. Nada daria certo. Um dia eu teria mesmo que chegar a conclusão de que tudo não passou de um engano. E que não se pode adiar o fim, não se pode mudar o inevitável. E o que não tiver que ser, não será. Não adianta reza brava, macumba, novena. Não adianta esmurrar a porta, se perguntar porquê, chorar, insistir. É triste, mas algumas coisas simplesmente nascem pra um dia darem errado por mais que a gente faça tudo certo. Eu tentei, eu juro que tentei. E talvez minha maior mágoa seja essa: certas coisas não dependem só de mim. E nosso amor? Bom, nosso amor só existirá quando você lembrar que eu ainda existo. Bem aqui.