sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Rinite de amor alérgico

    Detesto esse povo que me manda esquecer. Tô meio murcha porque minha rinite atacou e lá vem o drama. “Tá triste, né querida? Eu sei, ele te usou, Mas não liga não. Eles são assim mesmo, são todos iguais. Só estão a fim daquilo lá que você sabe né. Você deve estar se sentindo péssima, eu sei, mas vai passar, viu linda?”. É, tô me sentindo péssima, mas é com você despejando mil e umas frases prontas que viu na internet e usa por aí como se distribuísse conselhos excelentes. E não fica assim como? Com esse olho cheio de lágrimas e essa cara de acabada? Eu fico acabada com qualquer poeira. Qualquer filme me faz chorar. Fico acabada com o calor que me deixa mole. E esse povo achando que eu tô sofrendo por homem. Sabe, você sabe, eu odeio poeira. Eu odeio porque poeira me lembra tudo que é velho. E tudo que é velho me lembra ele. Porque ele é velho. Velho na minha vida. E eu não gosto de quem pára na estante do meu coração, junta poeira, atrapalha todo o resto e não serve pra nada. Gosto da casa, da pele, da vida, do coração limpo. Aliás, vivo muito melhor. Depois que descobri que tinha alergia a ele, e que tudo que eu tinha que fazer era limpar esse pó acumulado aqui dentro, ficou tudo mais fácil. Agora não preciso mais de pessoas infelizes me dando conselhos sobre como ser feliz. Agora vou mandar você se ferrar em pensamento e responder que não é nada, é só minha rinite. E me deixa, que eu demoro demais pra sacudir a poeira. Mas quando vou, passo feito furacão, arrasto tudo, não penso mais em sorrisos, em vontades, em passado. Me deixa, que eu tenho meu tempo. Fico anos dando murro em ponta de faca, depois roubo a faca, te rasgo inteiro, e você só percebe quando começa a sangrar. Não dou nem meia volta quando querem que eu dê a volta por cima, mas de repente, o mundo gira, e eu que fui tanto tempo suja, tanto tempo murcha, tanto tempo alérgica, agora vou ser caçadora. Feito aquelas faxineiras que não sossegam enquanto não estiver tudo brilhando. Caçadora, é. Mas sabe do que? Da minha felicidade. Do meu mundo colorido que eu sempre sonhei. Dos dias de sol que respiro bem e sujeira nenhuma afeta minha vida. É só esperar, hoje tô entupida, congestionada, com o peito chiando, com a vida doendo. Amanhã tô pulando, com a vida saltando dos olhos, com a garganta limpa pra poder gritar alto que sou feliz. É, sou feliz. E apesar da minha alergia eu sou alegria. Tá vendo como uma letra faz diferença na vida? É fácil ser feliz. Basta fazer uma faxina de umas ou outras sujeiras que andam por aí com pernas, braços, sorrisos e mentiras.

Um comentário:

  1. Adorei! Esse texto é seu? Muito bom mesmo! Beijos da tua prima.

    Valéria

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