De repente eu me vi sendo um homem. Era uma
experiência tão fora da realidade pra mim. Eu sempre fui romântica demais,
sensível demais, humilhada demais. Sempre fiz de tudo por quem nada fazia por
mim. Sempre ali, disposta, ingênua, na esperança de que um dia realmente aquele
beijo de fim de festa se tornaria o melhor amor do mundo. E de repente virou,
mas eu estava recusando. E de repente me vi dando uma desculpa qualquer só pra
beber no bar da esquina com as amigas. Poxa, eu mereço, semana inteira tão estressante.
Por que eu não posso tomar uma gelada? Que problema há nisso, meu Deus? E de
repente me veio na cabeça que namorar é um saco, que dar satisfação é outro
saco, e que ter que ficar sábado a noite falando amorzinho, docinho, bebê, meu
amor, é um saco maior ainda. Não queria nada daquilo. Pela primeira vez na
minha vida estava achando o jogo de futebol mais interessante do que dormir de
conchinha. Sim, eu estava realmente sendo invadida por um sentimento masculino
que nunca tinha experimentado: a experiência de querer ter, mas não querer
sempre. E achava ridículo aquelas crises de "eu te liguei 17 vezes,
custava atender?". Claro que custava porra, eu estava num papo super cabeça
com as minhas parceiras e não ia parar na metade pra falar que também estava com
saudade do seu cheirinho, amor. E me irritava esse ciúme exagerado, de que vou
fazer bico e não vou te beijar por cinco segundos porque o patife de um ser
humano que não tinha nada melhor pra fazer, disse que eu era linda. Se ele
disse o problema era dele, a beleza quem via era ele, vá se entender com ele e
não me assuste mais. Não me assuste com mensagens de bom dia, porque eu odeio
acordar cedo. Não diga que eu sou muito especial pra você, porque ser especial
na vida de alguém é um problema de uns tempos pra cá. Não me diga que quer ter
um relacionamento sério comigo, porque essa palavra me assusta mais do que
espantalho em plantação de tomate. Não queira entrar na minha vida, eu não te
quero, eu não te quero assim. Eu queria você por um dia, uma semana talvez, e
você com esse jeito seu de ir se achegando do meu lado, eu fico sem reação. Não
consigo te dizer que vá embora, porque a carne é fraca, você sabe como é, um
beijinho aqui outro ali não faz mal a ninguém. E de verdade, eu não quero te
fazer mal. O problema não é você, sou eu, e esse meu jeito de dar desculpas
esfarrapadas feito homem. O problema é que você é tudo que eu sempre quis, mas
agora dei pra não querer. Agora resolvi curtir minha vida, eu sou jovem, tenho
muita vida pela frente, e não quero me prender em um relacionamento. Entende? “Não,
não chora, não faz bico. Não, desculpa. Olha, eu não vou embora tá? Não, não precisa
dizer que vai se matar. Não, calma, calma... Eu to aqui, eu não vou sair do seu
lado. Deleta tudo, pensando bem, você também é muito especial pra mim, eu
odiaria te perder!” E assim, sem querer querendo, não disse não nem disse sim.
E iludi mais uma vez por dó, falta de coragem ou por amor – que eu sei que existe, mas custo aceitar. Sempre critiquei os seres de Marte, mas, de um jeito estranho, agora
eu sei porquê os homens preferem a solidão. Como é difícil namorar um homem
delicadamente feminino. Como é difícil ser o macho da relação.
Adorei o texto, uma metamorfose !!! rs
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