domingo, 12 de agosto de 2012

Um macho de saias


   
          De repente eu me vi sendo um homem. Era uma experiência tão fora da realidade pra mim. Eu sempre fui romântica demais, sensível demais, humilhada demais. Sempre fiz de tudo por quem nada fazia por mim. Sempre ali, disposta, ingênua, na esperança de que um dia realmente aquele beijo de fim de festa se tornaria o melhor amor do mundo. E de repente virou, mas eu estava recusando. E de repente me vi dando uma desculpa qualquer só pra beber no bar da esquina com as amigas. Poxa, eu mereço, semana inteira tão estressante. Por que eu não posso tomar uma gelada? Que problema há nisso, meu Deus? E de repente me veio na cabeça que namorar é um saco, que dar satisfação é outro saco, e que ter que ficar sábado a noite falando amorzinho, docinho, bebê, meu amor, é um saco maior ainda. Não queria nada daquilo. Pela primeira vez na minha vida estava achando o jogo de futebol mais interessante do que dormir de conchinha. Sim, eu estava realmente sendo invadida por um sentimento masculino que nunca tinha experimentado: a experiência de querer ter, mas não querer sempre. E achava ridículo aquelas crises de "eu te liguei 17 vezes, custava atender?". Claro que custava porra, eu estava num papo super cabeça com as minhas parceiras e não ia parar na metade pra falar que também estava com saudade do seu cheirinho, amor. E me irritava esse ciúme exagerado, de que vou fazer bico e não vou te beijar por cinco segundos porque o patife de um ser humano que não tinha nada melhor pra fazer, disse que eu era linda. Se ele disse o problema era dele, a beleza quem via era ele, vá se entender com ele e não me assuste mais. Não me assuste com mensagens de bom dia, porque eu odeio acordar cedo. Não diga que eu sou muito especial pra você, porque ser especial na vida de alguém é um problema de uns tempos pra cá. Não me diga que quer ter um relacionamento sério comigo, porque essa palavra me assusta mais do que espantalho em plantação de tomate. Não queira entrar na minha vida, eu não te quero, eu não te quero assim. Eu queria você por um dia, uma semana talvez, e você com esse jeito seu de ir se achegando do meu lado, eu fico sem reação. Não consigo te dizer que vá embora, porque a carne é fraca, você sabe como é, um beijinho aqui outro ali não faz mal a ninguém. E de verdade, eu não quero te fazer mal. O problema não é você, sou eu, e esse meu jeito de dar desculpas esfarrapadas feito homem. O problema é que você é tudo que eu sempre quis, mas agora dei pra não querer. Agora resolvi curtir minha vida, eu sou jovem, tenho muita vida pela frente, e não quero me prender em um relacionamento. Entende? “Não, não chora, não faz bico. Não, desculpa. Olha, eu não vou embora tá? Não, não precisa dizer que vai se matar. Não, calma, calma... Eu to aqui, eu não vou sair do seu lado. Deleta tudo, pensando bem, você também é muito especial pra mim, eu odiaria te perder!” E assim, sem querer querendo, não disse não nem disse sim. E iludi mais uma vez por dó, falta de coragem ou por amor – que eu sei que existe, mas custo  aceitar. Sempre critiquei os seres de Marte, mas, de um jeito estranho, agora eu sei porquê os homens preferem a solidão. Como é difícil namorar um homem delicadamente feminino. Como é difícil ser o macho da relação.

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